Um duelo perdido com o sol

Malata, PeruO dia começou cedo. Dormi aproximadamente 11 horas e tomei um café e três pães simples como pequeno-almoço. Ainda me perguntaram se queria panquecas mas eu disse que queria o que eles fossem tomar. Ainda comeram uma pratada de arroz que eu gentilmente recusei.

Voltei ao caminho por entre vales e riachos. Subi metodicamente, passo a passo, controlando a respiração durante uma hora e entrei em Cosnirhua por baixo de uma Oliveira. O nome desta povoação revelou-se muito complicado de memorizar e só o consegui escrever agora porque o tenho apontado no meu bloco de notas. Cosnirhua conta com 150 habitantes e é uma das grandes povoações daqui do desfiladeiro. Á entrada da povoação, mais uma criança. Saul era o seu nome. Tinha igualmente 5 anos, estava à porta de uma casa que contava com um cato e um conjunto de objectos no seu interior, que se revelaram um excelente fundo para mais uma vintena de fotos excepcionais. Mais uma vez, Saul movimentou-se docemente e sorriu por algumas vezes. A sua expressão e a sua atitude revelaram um grande modelo, para sorte do fotógrafo que apenas passava.

Saul e Lucero não se devem conhecer. Têm ambos 5 anos e vivem a 1h de distância um do outro. Nestas aldeias há ainda muita gente que nunca viu mais nada do que a sua própria casa, os seus vizinhos e aquela paisagem. Gualter chegou mesmo a contar que a sua avó nunca tinha ido a Cabanaconde e só uma vez tinha saído de San Juan, quando visitou Taipay para votar pela única vez na vida. Lucero e Saeul irão, no futuro, cruzar-se na escola e talvez, um dia, casem e vivam aqui. Eu conheci-os separados e tranquei toda a sua expressão numa foto para a posteridade. Mas isto já sou eu a magicar e isso não interessa nada a ninguém. É o que dá viajar sozinho… sobra muito tempo para pensar.

Parei num pequeno café onde encontrei o grupo de franceses. Pedi um mate de Coca, desta vez com folhas e não de saco, e descansei um pouco. Desde este mate de Coca que me passei a recusar a beber mates de saco. O sabor é completamente diferente. Falamos todos um pouco, algumas francesas compraram folhas de coca para levarem mas fomos todos advertidos de que era ilegal transportá-la para fora do país. O Peru é o único país do mundo onde é legal plantar coca, embora a vizinha Colômbia tenha mais plantações, certamente com outra finalidade de uma nobreza diferente desta. Passei Cosnirhua e em 20 minutos cheguei a Malata. Malata estava deserta. No centro, bem no fim da rua principal, um largo de terra fazia companhia à igreja colonial quase completamente destruída. Todas as construções desta zona são de pedra do local e não se usa o cimento. O barro tem a capacidade de erguer muros seguros e de aquecer as casas. Só os telhados de alumínio (infelizmente!) é que são transportados montanha abaixo. Malata é pequena e muito desabitada. Conta presentemente com cerca de 50 habitantes. De Malata, cheguei em 2h Sangale, local conhecido por Oasis e cujo nome tende a desaparecer com alguma brevidade, conforme me avisou Braulio. Sangale é realmente um paraíso. Piscinas de pedra com agua medicinal, relvados naturais, sombras paradisíacas proporcionadas por palmeiras completamente deslocadas do habitat a que estamos habituados. Cheguei e ainda não estava nenhum turista. No mesmo dia queria partir para Cabanaconde mas ainda era bastante cedo e tinha decidido descansar por ali. A piscina convidava a um mergulho mas eu, estupidamente, não tinha levado os calções para poupar no peso. Muito má opção, estava um calor excelente para uns mergulhos.

Conheci Jimal, dono do hotel Oasis. Estive à conversa com ele e soube que apenas 7 pessoas vivem neste local. Aos poucos chegaram mais umas tantas pessoas. O grupo de franceses chegou primeiro e logo a seguir, vindo do sentido oposto, chegou Michael, um Inglês que estava a viajar há uns meses largos e tinha um aspecto bastante civilizado. Começamos a falar. Ele vinha de Ushuaia, na Argentina, e o meu objectivo era precisamente ir para lá. Recolhi excelentes informações e decidimos almoçar juntos uma pasta de pimento, arroz e lentilhas. Bom, mas pouco substancial como mais tarde se veio a revelar. Michael tem 34 anos, viaja na América do Sul com o objectivo de aprender espanhol e quer ir até ao México. Não tem data marcada para o final e parece estar bastante à vontade em questão de finanças. Era investidor económico mas com os crashes nas economias mundiais foi simpaticamente colocado na rua. Não fala mais nenhuma língua sem ser o inglês e começa a dar uns toques de espanhol. Revelou-se uma personalidade fantástica. Um pouco mais tarde, chegou um grupo de 3 franceses. Porra… há franceses como ó caraças por estes lados! Tivemos imenso tempo na conversa e, por isso, só saí às 16h. Bastante tarde, claro, já que anoiteceria em 2 horas. Sentia-me bem fisicamente e comecei a subir com um passo certo e com vontade de chegar rápido. O sol ia-se pondo ao fundo, atrás das montanhas, e a sombra ia subindo lentamente desde o vale. Sangale já estava completamente às escuras mas, no entanto, tendo em conta a altitude a que eu já me encontrava, a forca dos raios continuavam a marcar-me a cara. Caminhava ininterruptamente para ganhar tempo e parecia estar a ganhar o duelo com o sol. Ia atingir o topo, num desnível de 1.300 metros, antes do anoitecer. Mas a verdade não foi essa. O sol, a quem eu pensava dar liberdade depois de chegar ao cume, aprisionou-me na encosta, na sua escuridão.

A última luz continuava a ser suficiente para caminhar mas, a falta de pausas obrigatórias para descanso tinham-se revelado cruciais para o cansaço do momento. Terminei na escuridão e comi os meus últimos rebuçados. Bebi a ultima água sem pensar se me iria fazer falta. Achei que já estava muito perto. Estava muito suado e extremamente cansado. Decidi esperar a noite plena sentado já que a teria de enfrentar alguns metros a frente. “Então, mais vale descansar e enfrenta-la já”, foi o que pensei. Tirei a minha lanterna e comecei a sentir-me sozinho. Estava completamente desgastado, sem comida, sem água e com uma lanterna que, para ajudar, já tinha as pilhas fracas. O topo da encosta estava já ali, mas nunca se sabe se por detrás de uma encosta não existe uma outra encosta mais alta e mais difícil de vencer. Sabia que não. Tinham-me dito que eram 2h a subir e o resto era plano. Já tinham passado 2 horas e tinha feito toda a parte inicial do caminho com bastante rapidez. O suor começou a ficar gelado e eu não conseguia dar 10 passos sem parar para descansar. Estava com muita fome, estava escuro e só as estrelas me faziam companhia, mas de nada me valiam. A lua não estava lá naquele dia. Já numa fase em que contaria fazer o resto da viagem em pelo menos 2 horas pausadamente e descansando no final de cada recta do caminho que serpenteava a montanha comecei a ouvir uma música ao fundo. Alguém estava a subir a montanha. Sabia porque a música se estava aproximar e o som vinha de baixo. Quem seria? Agasalhei-me.

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