Um desejo desde San Pedro

Despertamos às três da manhã para ir ver os geysers del Tatio. Está um frio quase insuportável no campo de geysers, estamos a 4300 m acima do mar (o mais alto do mundo). Tomamos chá de folha de coca para manter a circulação sanguínea. E esperamos que o sol nasça, ambas com as mãos a entrar em hipotermia. As fumarolas saem antes dos primeiros raios de sol, depois seguem-se as explosões de água a ferver, em alguns casos 3 metros em sentido ascendente.

No chão deste campo estão esses pequenos buracos, suficientemente grandes para engolir alguém que se distraia. O círculo que deixam no chão, esse tem várias cores e anéis de texturas, ocres, laranjas, brancos, água em ebulição, óxidos petrificados, gelo. A luz é de novo impressionante. Caminhamos com cuidado, escutam-se alguns turistas a entrar para uma pequena piscina natural de banhos quentes, água aquecida naturalmente no miolo interior da Terra, e que com a ajuda da actividade dos vulcões que estão próximos, submerge neste altiplano.

Explica-me o guia que, há uns 50 anos, vários cientistas afirmaram que este era um dos campos de geysers mais interessante do mundo e que, tal como os campos de geysers da Islândia, deveriam estar proibidos ao turismo.

Os turistas seguem o seu deleite nas piscinas termais, nós aproveitamos para tirar fotografias às fumarolas e aos efeitos visuais que provocam. Apesar do sol não nos aquecer muito, o nascer do dia é suficiente para começarmos a suportar melhor o frio. Seguimos viagem a ouvir o guia (que é bastante informado), enquanto vamos descendo o altiplano. As paisagens vão-nos surpreendendo. Primeiro as llamas, os guanacos e vicuñas, em bandos e livres no seu habitat. Os vulcões e cordilheira ao longe e uma vista quase área do Salar de Atacama, branco, um mar parado em ilusão óptica. Parámos numa aldeia perdida por estas alturas, as casas são de adobe, aqui chove pouco, há uma pequena capela, umas casas alinhadas numa rua em terra, vendem ervas medicinais aos turistas, e umas empanadas. Há um antigo autocarro parado aqui, não sei como cá chegou, mas lembra-me a imagem do autocarro onde viveu o Chris Mc Candless, o jovem que viajou, viveu, e morreu sozinho no Alasca. Aqui não estamos tão isolados, felizmente ou infelizmente, graças ao turismo. De outra forma, esta aldeia seguiria isolada no frio do deserto altiplânico.

Visitamos um oásis, e esse contraste de cores e aridez é de novo evidente: há verde só por onde passa o curso de água, é aqui que estão as plantações, lá em baixo, num pequeno vale. Ouvimos falar português, um casal pede-nos para tirar fotografias, são cariocas, a Rafaela explica-me como são os cariocas e os paulistas; eu, por associação, penso nos alfacinhas (lisboetas) e nos tripeiros (portuenses).

Ainda de manhã visitamos o Salar de Atacama, onde vemos vários flamingos cor-de-rosa passear. Também nos é permitido caminhar aqui, um circuito sobre o sal cristalizado, que nos seca e corta as mãos, sobre esse mar que parece artificial e se estende até perder a vista. Agora que estamos aqui as ilusões de óptica ainda são maiores.

Á noite, convidam-nos a ir caminhar até ao deserto para ver as estrelas mas o convite é suspeito. Somos duas mulheres e as estrelas vêem-se do pátio do hostal onde estamos. Aproveitamos para descansar, passear um pouco por S.Pedro, rir, falar da vida, ver o tempo passar, como dizia Vinicius de Morais, observar os outros mochileiros que estão no hostal que, como a grande maioria aqui no meio do deserto, bebe bastante álcool. Nós comemos pão, manteiga e abacate, ao melhor estilo chileno que eu depressa adquiri. Viciei-me no “pan com palta”, antes só conhecia o abacate doce com vinho do Porto e canela, no Brasil a Rafaela diz-me que também se come doce, mas eu agora troquei pela “maneira chilena”.

Adormecemos a falar de coisas tão banais como esta, sem percebermos muito bem que esta viagem ia ser depois recordada como um momento único e especial.

Por esta altura, do outro lado do mundo, em Portugal, um dos meus dois primos direitos casa-se, a minha família está reunida como há muito tempo não consegue estar, e só eu estou fora. Sento-me na igreja de S.Pedro de Atacama, filmo um pequeno vídeo em que peço aos bem-aventurados que tragam uma pessoa ao mundo para me substituir – sou a mais nova da família. Alguns meses mais tarde, chega-me a boa nova. O meu desejo foi cumprido.

 

 

Por Sofia Valente
A Sofia é uma surfista do Porto que está na América do Sul a fazer um ano do curso de arquitectura e, claro está, a viajar e a surfar sempre que pode.

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