O suor que fazia a t-shirt colar-se ao corpo estava gelado. Esperei pela salvação. Hilário, peruano, 18 anos, caminhava de sandálias e, curiosamente, tinha uma lanterna bem mais potente que a minha. Ajudou-me a levantar, a pôr a mochila e deu-me força, com palavras muito simples, para continuar.
Descansava comigo em tudo que era curva e, com uma paciência de santo e com palavras pausadas, forçava-me a prosseguir. A luz do sol há muito que me tinha abandonado e a subida parecia estar no final. Pelo menos era isso que Hilário incessantemente afirmava. A verdade é que, pausadamente, chegámos os dois ao topo. Ele, em vez de fazer o caminho em 2h como todos os dias, realizou-o em 4h, carregando um turista que se tinha aventurado sozinho.
Paramos num restaurante, entrei. Ele foi a casa. Íamos jantar juntos para comemorar a chegada a Cabanaconde. Paguei um Sol a uma criança para ir chamar Braulio, o Focoloco. Ele não estava em casa. Comemos um excelente bife de alpaca e uma excelente sopa. Carlos, o empregado do restaurante e hotel, pôs Manu Chao a meu pedido e foi muito agradável ouvir boa música. Ao tempo que eu não ouvia música latina. Tinha saudades da música do Represas. Pensava em partir ainda esse dia para Arequipa, no autocarro das 22h. Não fui. Estava demasiado cansado.
O jantar restabeleceu-me a forma, mas precisava psicologicamente de descansar. A viagem e o frio não me iriam fazer dormir sossegado. Alojei-me no hotel, num quarto gelado. Deviam estar menos de zero graus naquela noite. Dormi com o meu saco-cama e quatro cobertores. Estava um frio fenomenal e o quarto tinha 3 portas com frinchas tão grandes que cabiam coelhos.
Acordei mais enérgico e tomei o pequeno-almoço com Hilário. Em poucos minutos ele partiria rumo a Sangale. Todos os dias realizava o caminho para baixo e para cima duas vezes. Era esse o seu trabalho, comprar comida para os turistas. Parti na camioneta das 10h30, depois do fabuloso pequeno-almoço. Na camioneta, mesmo antes de partir, entrou um homem que eu não reconheci. Sentou-se no banco ao meu lado e só passados alguns largos minutos é que nos apercebemos da situação. Era Braulio, o Focoloco, que também ia para Chivay. No dia anterior não nos tínhamos encontrado. Ele tinha esperado por mim mas, às 22h, tinha saído de casa. Coincidência das coincidências, encontrávamo-nos na mesma carreira rumo a Chivay!
Chegamos a Chivay e fui almoçar. Paguei 3 Soles e comi um esparguete excelente. Estive à conversa com o homem da tabacaria e parti rumo a Arequipa. O autocarro ia cheio e o meu lugar era bem lá no fundo. Ao meu lado estava um homem com quem falei toda a viagem mas que não recordo o nome. Se calhar, nem perguntei. Trabalhava no serviço de identificação de Arequipa e foi uma excelente companhia. Cheguei e já era noite. Apanhei um táxi rumo ao hotel do costume, onde tinha deixado parte da minha bagagem. Fui recebido por Marlon. Deitei-me, mais uma vez, cedo.