Um azar nunca vem só

Um azar nunca vem só
San Jose, Costa Rica
12 Julho 2007

Não cheguei a contar mas, no mesmo dia que me assaltaram em Mal Pais, também me bateram no carro alugado.

Minutos a seguir ao assalto, ainda esbaforido e com esperança de encontrar o Toyota Land Cruiser cinzento que os ladrões conduziam, um camião de transportes bateu-me no carro, enquanto fiz uma rápida paragem para perguntar onde era a esquadra da polícia, deixando dois grandes golpes profundos no capô. Não queria acreditar, mas a p*** da Lei de Murphy não se tinha esquecido de mim.

Há três regras muito simples a cumprir em caso de acidente na Costa Rica. A primeira, é não mover os carros, aconteça o que acontecer! Caso contrário, é como se nunca tivesse acontecido nada. Ora, não sendo culpado do acidente e não querendo assumir os custos da reparação, ali fiquei eu durante 6 horas (sim, 6 horas!) à espera da polícia de trânsito, sem poder fazer nada enquanto alguns canalhas abriam a minha bagagem e esfregavam as mãos de contentes à medida que descobriam o tesouro.

Tenho sempre que me esforçar duas vezes mais para fazer alguma coisa porque sei que, a determinada altura, alguma coisa vai correr mal. Este assalto já estava planeado antes de sair de Portugal, era apenas uma questão de quando e onde. Por isso fiz um seguro específico para o portátil. Por isso digitalizei todos os documentos, bilhetes de avião e informação importante e mantive-os numa pasta do Hotmail. Por isso deixei em casa um backup de toda a informação que tinha no computador. Por isso transportava os diferentes cartões bancários em sítios diferentes. E muitas coisas mais. Estava tudo preparado e, passado o choque, foi só colocar a máquina em andamento com a ajuda de amigos e família em Portugal. O facto de a maioria das coisas se terem resolvido com alguma rapidez e simplicidade não foi sorte, foi método e planeamento. Porque eu sei que com essa, nunca posso contar.

Telefono de Puerto Viejo ao Sr. William Baquero, responsável pela emissão de passaportes na Embaixada de Portugal em Bogotá, Colômbia, que me garante que colocou os documentos no correio no dia anterior e que, no máximo, na quinta ou sexta-feira chegarão a San José.

– E com data de validade até Janeiro, para poder terminar a sua viagem! – acrescentou orgulhoso do seu trabalho.

“Perfeito”, penso. “Sexta-feira, regresso a San José e vou logo buscar o passaporte ao Consulado. Sábado, chega o Diogo (um amigo do Porto que já não via há anos) que me traz um computador novo. Já comprei uma máquina e uma mochila novas. Compro uma mala pequena e mais duas ou três peças de roupa… e siga! Domingo ou segunda estou em Pavones, mesmo a tempo de apanhar o swell que vi nas previsões, e depois sigo viagem para o Panamá!”. “Perfeito”, repito confiante para mim próprio.

ferry boat na costa rica, Lei de Murphy

Contas rápidas, sairia da Costa Rica com cerca de duas semanas de atraso em relação ao planeado, o que era perfeitamente recuperável. “Apresso um bocadinho o Panamá, roubo uns dias ao Perú, que já conheço e, se calhar, deixo a Patagónia para outra viagem, até porque é um desvio caro e agora tenho que apertar o cinto”. “No worries, está controlado. Tudo se vai resolver”, digo para mim próprio com uma sensação de alívio.

E agora, entra de novo a tal Lei de Murphy. A data de validade que se lê no passaporte temporário enviado pela Embaixada de Portugal na Colômbia é… tchan, tchan, tchan, tchan… Janeiro de 2007! (para os mais distraídos, estamos a meio 2007 e Janeiro já lá vai há uns meses). Não queria acreditar. Deito as mãos à cara, numa tentativa de controlar o desespero e a fúria do momento e, naquela sala que o Consulado ocupa nos escritórios de um laboratório farmacêutico, não sabia se havia de chorar ou destruir alguma coisa. Mas não há nada a fazer senão esperar mais alguns dias por uma nova emissão.

Como complemento, os bancos não me fazem Cash Advance com o cartão de emergência que a Visa gentilmente me enviou sem que tenha um documento de identificação original. Mostro uma cópia do passaporte, a denúncia à polícia, uma carta do Consulado, uma cópia do pedido de um novo passaporte. Não adianta, “são regras do Banco, temos pena de não poder ajudar”.

Em muitos sítios também me pedem identificação para pagar com cartão e, além disso, os preços dos quartos de hotel baixam consideravelmente se se pagar em dinheiro. Cá também se dá o golpe nos impostos. E, claro, nenhum restaurante de comida barata aceita cartões. Eu quero cash e estou disposto e ir até às últimas consequências para o conseguir! Além disso, preciso de despejar a minha fúria em alguém senão rebento.

Peço à menina da caixa para falar com alguém responsável. Primeiro vem a supervisora, que também não me pode ajudar. “Só se for com algum Director.” Seja… estou de calções, chinelos e t-shirt sem mangas, mas falo de igual para igual com qualquer pessoa. Mas também não adianta, claro, “não é possível neste momento”.

Peço para chamarem a Polícia porque não tenho para onde ir. Digo que não tenho dinheiro para um hotel nem para comer.

– Mas o Sr. não está a fazer nada de mal, a Polícia não o levaria.

Ameaço, então, roubar uma calculadora que está em cima da secretária e sentar-me no chão do átrio do banco a pedir esmola.

– Assim a Polícia já me leva, não? E, ao menos, dão-me comida e dormida?

Acabámos a rir. Mas estou capaz de matar alguém.

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