Turista acidental
Playa del Carmen, México
18 Maio 2007
Chego ao fim de dezassete horas de estrada. Mais três do que as da noite anterior, desde Huatulco até San Cristobal de las Casas. São assim as viagens de autocarro no México, não só pelas distâncias mas, principalmente, pela “navegabilidade” das estradas.
As cinco primeiras horas de viagem, até Palenque, são feitas por uma estrada de montanha, com curvas e contracurvas, a subir a ritmo lento. É cedo para dormir… mas faço um esforço porque a alternativa é vomitar as panquecas com mel e o licuado de morango que comi ao lanche. Ou aquilo seria também o almoço? Já não me lembro.
Depois, as coisas acalmam e, finalmente, posso aproveitar a viagem. Agora sim, já são horas de dormir a sério. Visto a camisola para me proteger do frio polar de que todos os condutores de autocarro da América Latina são “apugilistas”, ligo o iPod para disfarçar o ruído dos tiros do filme, rebato o banco e… ahhh, mais uma noite neste hotel de luxo ambulante!
Playa del Carmen e a Riviera Maya são a antítese do conceito desta viagem. São sítios caros, impregnados de turistas, tours, guias e todas as suas actividades satélite. As ruas estão bem cuidadas, as casas estão pintadas de forma harmoniosa, os cafés lounge e os beach-clubs servem cocktails exóticos coloridos, os preços estão em Dólares Americanos e falam-nos em inglês. Há McDonalds, Burger King, Starbucks, gelados e porcarias que nos tentam a cada esquina, e até podemos passear numa Quinta Avenida! O mar não tem ondas.
Mas não me posso queixar. Sabia bem para o que vinha e tratei de cumprir o programa. Dois mergulhos fantásticos em Tortugas e Barracuda, visita a Chichén Itzá, banhos e saltos para a água nos cenotes (rios subterrâneos), passeios de final de tarde pela areia branca e fina até à praia de Mamitas para ver as Miss Universo a desfilar, visita às ruínas de Tulum, umas cervejolas nos bares na moda e… listo!
Antes de vir embora, tenho ainda a oportunidade de me encontrar com a Joana e o Carlos que vieram passar uma semaninha de férias. Fico com eles uma noite, de pulseirinha de resort, toalha de praia de cortesia, buffet volante e bar aberto a toda a hora! Visitamos Tulum juntos, deliciamo-nos com a temperatura e transparência daquela água e, finalmente, tenho as primeiras fotos da viagem em que eu realmente apareço. Conto-lhes alguma histórias já vividas, tento dar-lhes umas dicas sobre os táxis, os colectivos, o preço as coisas, locais a visitar, como evitar os tours, etc. Relembramos o passado, tentamos imaginar o futuro. Estou entre amigos, entre família, e já me fazia falta alguma companhia.
Eles regressam a casa no próximo sábado e levam notícias e fotografias, provas físicas de que tudo está a correr bem. Eu continuo… por mais uns meses.