Acordo com uma mão no ombro que me pede para endireitar as costas da cadeira para a aterragem. A última vez que tinha olhado para o pequeno monitor, o mapa indicava que estávamos algures sobre o Médio Oriente. Estranho já estarmos a chegar mas, pelos vistos, os comprimidos tinham feito novamente a sua parte.
Mas reparo que não sinto a mesma sensação de alívio de sempre quando o avião toca finalmente na pista; que à saída já não sorrio para as hospedeiras; que apanho o metro sem qualquer entusiasmo de rever a London Bridge e de comer a sandocha sentado nas margens do Thames; que caminho cabisbaixo pelas ruas do Soho e que nem sequer tenho vontade de ir até Convent Garden ver os artistas de rua.
Estou quase de volta. De volta aos mesmo sítios, às mesmas ruas, ao mesmo carro, aos mesmos problemazinhos profissionais, aos mesmos pensamentos, aos mesmos sonhos, aos mesmos sentimentos… a esta sensação de distância e de revolta que eu nunca entendi, às mesmas ansiedades, às mesmas desilusões. Estou de volta ao mesmo que deixei.
Esperança ingénua esta de achar que cinco semanas podiam mudar alguma coisa. Parece que adormeci e acordei no dia seguinte… e que tudo não passou de um sonho. E agora, não sei quanto tempo consigo manter-me acordado.