Travessia para o Brasil

Viajei para fora do Chile e fui acompanhada de alunos da minha faculdade chilena. O objectivo desta viagem é chegar a um ponto da América do Sul e nele construir uma obra de arquitectura para dar de presente à comunidade local. Ou seja, devíamos passar da parte do projecto (neste caso simples) à sua concretização, um pouco imprevista e nas condições reais do lugar e sua gente. Esta é a missão em termos didácticos, que é sem dúvida estimulante, embora custosa a nível económico (quem a financia são os próprios alunos). A obra deste ano é um coreto, que vamos construir junto a uma escola primária para que os alunos tenham um espaço para representações teatrais, cenário musical, etc.

Além disto, somos 80 seres humanos a conviver durante duas semanas, o que não é propriamente o estilo de viagem que eu mais aprecio, e tudo serve para aprender muito: cabe-nos cozinhar, construir, entrevistar a população e, ainda, organizar actividades colectivas para nos auto-entretermos. Eu e a Bárbara, uma amiga chilena, somos encarregadas de dar aulas de yoga ao grupo, para estes corpos torpes de tanto viajar em bus, além de fazer um cadastro do pequeno bairro-praia, construir e cozinhar. Acabei por ver bastantes vantagens em, desta vez, ter ido acompanhada, porque me encorajou mais a partir sozinha a viajar. No Chile eu já me sentia em casa e fora não.

O lugar que foi eleito para esta travessia foi a Ilha Grande, no estado do Rio de Janeiro, ao lado de Angra dos Reis. O Brasil esteve, durante vários anos, no meu topo de utopias, no meu número-um de países a visitar. Tinha a bandeira do Brasil no quarto, uma prancha com a bandeira feita de cartão, um berimbau, e consumi bossa nova e mpb desde dos 12 anos. Várias vezes estive para o visitar, mas sempre vi as minhas viagens adiadas para depois. Era uma espécie de obsessão para mim e, na hora de decidir para onde fazia intercambio, o Rio de Janeiro era a minha segunda opção. O Chile, que tem uma das ondas que mais queria surfar, era a minha primeira opção.

Toda a filosofia da Escola de Arquitectura que estou a frequentar cá se baseia na ideia de uma América como continente para se “atravessar”, para se reconhecer enquanto território que engloba diferenças drásticas na sua extensão, e que para tal há que recorrê-lo, viajá-lo.

E eu, encantada com a ideia: cruzar a América do Sul, do Pacífico ao Atlântico, que não é o mesmo que eu conheço porque aqui o sol nasce no mar. Do Chile ao Brasil, em bus, 4 dias, cruzando toda a Argentina, depois de passar na fronteira de Paso Los Libertadores (ponto da cordilheira com neve, que se tornou comum para mim depois de algumas viagens e onde os cães labradores da polícia me revistam sempre a mochila.

A Argentina surge-me como país de planícies verdes até perder a vista, palmeiras ao longe, vacas, muito calor, e insectos enormes a voarem à noite. Atravesso até chegar à fronteira com o Brasil, de Mendonza a Corrientes. Cruzamos na fronteira da Foz do Iguaçu, outra das maravilhas mundiais, esta dividida entre dois países. Mas os professores “proíbem-nos” de vê-la: “não há tempo depois para construir a obra, etc…” e fico com mais este destino por ver, atravessado na cabeça.

São Paulo do bus: viadutos, favela de tijolo laranja, cabos, trânsito, sambódromo. Fica-me, obviamente, muito por ver (museu-praça da Lina Bo Bardi, e toda a cidade que consome arte contemporânea e muita cultura, a favela de outros ângulos…).

Curitiba: cidade universitária, com o melhor índice de qualidade de vida do Brasil, Museu-olho do Oscar Niemeyer, uma parte da cidade com jardins que são fruto de projectos de urbanismo modernistas e pós modernistas, em que o Brasil foi pioneiro e cobaia.

Estado do Rio de Janeiro: estou ao lado daquela que, para mim, é a cidade mais bonita do mundo, e não a podemos ir ver, não há tempo: “não é uma viagem para turistas, e sim para ir construir arquitectura”. Eu sei que o encontro está marcado, o Rio de Janeiro é perigoso, segue no meu imaginário como uma das cidades mais fotogénicas, mais bonitas do mundo.

Paramos na estrada que vai para Angra para perguntar como está o resto do caminho. A senhora que faz o favor de parar explica-me, em Português, que não convém muito estarmos aqui parados pois são frequentes os assaltos a buses. Além disso, a estrada está cortada mais à frente. Traduzo aos professores o que ela me diz e vemos, como única solução, voltar para trás até encontramos a uma nova estrada que segue para Angra.

Chegámos de noite e chuviscava, estava um calor húmido que atrapalhou o traslado de 80 mochilas e passageiros para os pequenos botes, que nos haviam de levar até à ilha. Temos campismo reservado para uma praia, onde chegámos depois desta travessia nocturna. Mar morno, estrelas, calor e uma pequena trilha de selva até montar a tenda, para depois ir “morrer” na praia. Banho nocturno de boas vindas. Não há luz nem na praia, nem na trilha, ouve-se a bicharada toda, e com a chuva os cheiros florescem da terra-lama. Esta foi a primeira introdução a algo parecido com selva, que tive na vida.

 

 

 

Por Sofia Valente
A Sofia é uma surfista do Porto que está na América do Sul a fazer um ano do curso de arquitectura e, claro está, a viajar e a surfar sempre que pode.

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