No Titicaca, num barco à vela a comer totora

Puno é francamente feio, confuso e desagradável como grande parte das cidades do Peru. É um bom local para dormir para quem quer visitar o Titicaca, mas só isso! As ruas têm passeios estreitos que se vão estreitando até desaparecerem, as buzinas dos automóveis acompanham o ritmo dos passos e, pela primeira vez, vi triciclos para transportar pessoas. Tipo os riquexós da Ásia mas, neste caso, o cliente vai à frente e não atrás. Excelente opção! Embora seja estranho pensar que estamos a usar a forca humana como se tratasse de um animal que está a arar a terra, a verdade é que, basicamente, é disso que nós vivemos o nosso dia-a-dia. Não é só uma questão de esforço físico, pois o transporte tem a sua técnica e a sua habilidade. Gostei de apreciar o Jerónimo a guiar. Valeu a pena. Para além de tudo isto tem a grande vantagem de não ser poluente, o que é um ponto muito forte a favor da sua utilização para quem o tempo passa ao ritmo das horas e não dos segundos. Nestes triciclos, as imagens aos nossos lados passam com calma. São arejados e confortáveis. Eu recomendo. Até porque são mais baratos se bem negociados.

Voltei para arrumar a minha mochila e sair do hotel rumo a Chimu. Deixei metade das coisas no depósito de mochilas preparado para o efeito e parti com metade da bagagem. Só o essencial! Apanhei um triciclo até à paragem dos colectivos para Chimu mas o condutor enganou-se e a viagem ficou 1 Sole mais cara. Deixou-me no terminal de autocarros e finalmente cheguei ao local. O motorista chamava por potenciais clientes abanando o braço e gritando o local de destino. Fiz-lhe sinal. O colectivo estava quase cheio. Pôs a minha mochila por cima do tejadilho e, com 17 pessoas dentro de uma carrinha de 9 lugares, partimos. Eu, por ser turista, ia à frente e à janela. No lugar do meio ia uma professora peruana, de mini-saia e muito bem arranjada. Foi ela quem provocou a conversa. Animados deixamo-nos levar pelas palavras de tal maneira que o motorista só 1 km depois de Chimu é que se apercebeu que tinha passado o local da minha saída. Despedimo-nos com um sorriso e cumpri o quilómetro que me distanciava do local a pé. Estava francamente bem disposto!

Chimu não conta com mais de 20 casas e não há turistas a vir aqui. A verdade é que todos vão a Uros, as famosas ilhas flutuantes, em barcos a motor e em tours organizados. Passam lá pouco tempo e eu, pelo contrário, queria dormir lá uma noite. Não me apetecia ir de barco a motor com a “turistada” toda e, com a mania que sou diferente, fui à procura de Omar Balcona, contacto dado por Brian, o americano escritor que tinha conhecido em Cusco. À porta de uma igreja adventista vejo um homem com ar de pastor evangelizador. Ninguém melhor para me dar esta informação. Em 2 minutos estava na direcção correcta com todas as informações necessárias para chegar a sua casa. Omar estava cá fora. Perguntei-lhe se me poderia levar de barco até Uros em troca de alguns Soles, como há algum tempo tinha feito a um americano. Abandonou o seu trabalho de construção de balsas e, acompanhado pelo seu irmão de 12 anos, partimos. Pouco antes, Wilber, nome do irmão mais novo de Omar, ainda foi no triciclo comprar-me uma garrafa de água e alguns cigarros.

Chegámos ao barco atravessando um lodo repugnante mas interessante. Estava a embarcar em mais uma aventura sem qualquer turista. Só estávamos os 3 no barco. Enquanto do porto de Puno a Uros são 10 minutos de viagem num barco a motor, eu cumpriria esse trajecto em pouco mais de uma hora desde Chimu se tivéssemos vento favorável. Á nossa volta muita vegetação. A planta famosa que crescia por todos os lados chama-se totora e é qualquer coisa tipo junco. Existem vários tipos de totora e algumas até se podem comer, como Wilber me fez questão de mostrar. Arrancou uns tantos da água e, pegando pela parte do fundo e descascando como uma banana, come-se até ao final da parte branca. Curiosamente tem um sabor adocicado, muito bom. Fomos comendo uns tantos durante a viagem.

A totora tem todas as utilizações possíveis e imaginárias. As balsas, famosos barcos típicos desta região, são feitas exclusivamente de totora. Os colchões das camas, as portas, as paredes, os telhados, os cozinhados, as bugigangas para os turistas, as plataformas flutuantes, etc… é tudo feito de totora. Serve como alimento, como combustível para aquecimento quando está seco e como material para ganhar algum dinheiro à custa do turismo cada vez mais desmedido da região. A verdade é que, segundo reza a história contada por Omar, durante um ataque chileno à baía de Puno as pessoas, para escapar, começaram a construir plataformas com a abundante vegetação desta zona do lago. Os projécteis das tropas chilenas não alcançavam aquela distância e, aos poucos, cada vez mais Aymaras começaram a refugiar-se em pequenas plataformas flutuantes no meio do lago. As plataformas são construídas segundo um processo bastante simples. Arranca-se uma fatia de totora a uma parte da vegetação envolvente e, em cima começa-se a colocar totora prensada e apertada por fios em forma de pequenas plataformas. A ilha fica solta e para que não fuja, amarra-se a uma outra ilha ou prende-se com varas de 7 metros, trazidas da costa, até ao fundo. A cada 15 dias coloca-se uma nova camada de totora porque a ilha todos os dias vai um pouco ao fundo. A estrutura que flutua não é rígida e os barcos a motor dos turistas, ao passar, criam uma esteira que se sente no chão sensível da ilha. É preciso ter muito cuidado onde se pisa. Nem tudo é solo seguro e, por vezes, a ilha divide-se em vários bocados. São situações vulgares. É óptimo andar descalço! Sente-se mesmo a suavidade de estar a andar por cima da água. Os pés vão ao fundo cada vez que andamos e, embalam-se com o ondular das águas do fabuloso Titicaca.

A viagem de volta, até Uros, correu bem. Ainda apanhámos um bocado de vento e eu, rapaz esforçado, ainda dei uma mão nos remos. Visitamos as primeiras das 42 ilhas flutuantes e escolhi aquela em que queria dormir. Fui recebido na ilha de Torani Pata por Juan Pablo e sua mãe Maria, de 53 anos. A ilha era excelente. Sem quaisquer luxos e, mesmo sem algumas coisas básicas, como casa de banho. Era isto que eu procurava. O seu comprimento ficava pelos 12 metros e a sua largura nos 6 metros. Muito pequena, sem turistas e com uma família para me receber.

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