Passo quase uma hora à procura de um sítio para fazer uma massagem, mas todos os SPAs, hotéis e freelancers da cidade estão “booked for the day”. Descubro um sítio meio manhoso mas é daqueles de massagens “completas” e não é bem isso que me apetece agora.
Conformado, resolvo ir dar uma volta a pé. Lembro-me de um jardim público mesmo a entrada da cidade, que vi ontem quando cheguei. Vou à procura dele. Começo a afastar-me do centro, passo alguns bairros sossegados e lá está o meu jardim ao fundo. É um espaço sossegado e tranquilo, com relvados cortados à campo de futebol, árvores de grandes cabeleiras que tocam no chão e caminhos que atravessam lagos naturais de águas e lamas fumegantes.
Ao longo de um desses caminhos, encontro uma pequena piscina rectangular, que parece uma daquelas banheiras onde se lavam os pés antes de entrar nas piscinas públicas, mas um bocado mais funda. O aviso alerta para a variação da temperatura da água que depende da actividade do solo. Hoje deve ser um bom dia, a avaliar pela nuvem de vapor que levanta da água.
Num dos cantos da piscina está um grupo de três Japoneses com os pés dentro de água, a conversar sobre qualquer que os faz rir (os Japoneses parecem estar sempre a rir). No outro, um casal idoso de Ingleses, também a molhar os pés, com um olhar distante típico de quem já viveu muito e agora pouco mais resta senão tentar constantemente reavivar todos os momentos na memória.
Mas quem me chama realmente a atenção, é um local Maori (nota-se bem pelas feições e pelos desenhos tatuados no corpo), sentado de tronco nu dentro da piscina, a transpirar de olhos fechados. “Este é que sabe” – penso para mim ao mesmo tempos que resolvo imitá-lo. Tiro a t-shirt e os chinelos, largo a mochila num banquinho de madeira e começo a entrar devagarinho na água quente.
Está quente, não? – a conversa começa como tantas outras que já tive por aqui. Lá respondo que sou de Portugal e, pela reacção, percebo que sabe bem onde fica o nosso cantinho. A partir dai, fomos falando, falando, falando… e acabamos por ficar ali um bom bocado à conversa. Rugby (o desporto nacional na Nova Zelândia que não é propriamente o meu forte), futebol, economia, finanças, casamento, religião, a luta entre o bem e o mal, e por aí fora. O meu novo amigo foi, juntamente com os seus 15 irmãos, educado segundo princípios religiosos muito fortes mas entendeu com naturalidade quando lhe expliquei que não sabia se acreditava em Deus. Disse-lhe que achava que havia qualquer coisa maior mas não sabia bem o que era. Podia chamar-se o sol, lua, amizade, amor, Deus… o nome não me interessava.
– Isso é suficiente. É o teu Deus, vem daqui de dentro – disse-me cerrando firmemente o pulso contra o peito.
Fomos fazendo uns intervalos, ora totalmente dentro de água, ora fora para refrescar, enquanto a filha de cinco anos brincava por ali e já era bem de noite quando saímos de vez.
– A mãe já deve estar preocupada – explica-me. Venho cá todos os dias, mas voltamos sempre para casa antes do anoitecer.
Recebo este comentário como um elogio, pego na mochila e começo a caminhar de volta para o backpacker onde fico a dormir nessa noite. Deixo a cidade borbulhante de Rotorua amanhã bem cedo, mas apetecia-me ficar mais um dia, só para repetir o tratamento neste SPA dos pobres.