Sozinho nas antípodas

Depois de adiar, ainda sem data marcada, o projecto da viagem de Volta ao Mundo, decido fácil e rapidamente sobre o destino das férias de cinco semanas que consegui negociar com a minha entidade patronal. Sabia que a ansiedade da partida, o medo do avião, a expectativa de me ver sozinho no outro lado do mundo, a fantasia secreta de não voltar… tudo isso me ia fazer tremer, hesitar, pensar por alguns instantes em desistir de tudo. Mas já não valia a pena pensar nisso. Já não havia volta e só faltava o primeiro passo.

Com a ajuda de alguns comprimidos para dormir, suporto com relativa facilidade as mais de 25 horas de voos, as 13 horas de fuso horário, os check-ins, os embarques e desembarques, os controles alfandegários, as revistas, os choradinhos para as pranchas… e respiro a primeira baforada de ar puro na Nova Zelândia, dois dias depois de ter saído do Porto.

Tenho um itinerário mais ou menos pensado mas sei que muito pode depender da vontade do vento, da ondulação, de uma paisagem, de um lago mais bonito, de uma montanha mais alta, de uma onda mais minha, de um olhar comprometido de uma rapariga Maori, de qualquer coisa. Apesar das previsões não serem favoráveis, não resisto e sigo logo para Raglan, onde ainda apanho um fim de tarde perfeito no sítio mais longe que se pode ir partindo de Portugal.

No dia seguinte, o mar baixa bastante e, depois de trocar impressões com alguma malta e verificar as previsões na net, decido passar os próximos dias a fazer outras coisas que não surf. Vou rumar ao centro, para as terras dos geizers, dos vulcões e dos parques naturais. Mas antes, quero ir ver uma praia que me falaram e que já tinha visto no Wannasurf.

Pela descrição, Ruapuke é uma praia mais aberta ao swell, podendo ser uma opção nos dias de mar pequeno. Cheira-me a um beach break manhoso, que só deve funcionar até meio metro, mas lá me meto nos 20 km de estrada de terra e pedras, que o meu Toyota Starlet verde bisga não faz a mais de 25 km/h, e depois de muitos campos com vacas e ovelhas a pastar encontro o desvio para a praia com o faro “surfístico” que se vai ganhando com os anos.

É uma praia com uma grande extensão de areia preta e é, efectivamente, um beach break manhoso, com quebra cocos de 1 metro e aparentemente cheio de corrente. Num fim-de-semana normal em Matosinhos ou Leça não entraria. Cumprimentaria os amigos, trocaria duas de letra e “ála que se faz tarde”! Mas não tenho nada melhor para fazer, ou pelo menos tenho tempo suficiente para fazê-lo… e como diria o Dejean “é sempre melhor que um pontapé no cú”! Estão três ou quatro carros parados. Só dois são de surfistas e três deles estão dentro de água. Tiro o fato curto (a água esta boa) e começo-me a vestir. Enquanto me visto, saem dois; cruzo-me com o terceiro já na areia. De repente, estou sozinho, com quebras cocos e espumas de um metrão pela frente, numa praia desconhecida, nas antípodas de onde costumo surfar. Ainda penso em desistir, fazer de conta que não tenho parafina na prancha ou que me apetece ir a casa de banho. Olho para trás e vejo um dos carros a ir embora; o outro não deve tardar a ir também.

Deixo o set passar e começo a entrar a medo, mas corre bem e passo sem apanhar nenhuma forte na cabeça. Começo a ver o primeiro set a entrar e sei que devo remar mais para fora para fugir à porrada… mas o coração bate muito forte e demoro um bocado a ganhar coragem. Ainda chego a tempo da primeira onda, uma esquerda que parece que vai abrir um bocadinho, viro a prancha e apanho, pois não quero ficar ali a enfrentar o resto do set. Um drop seco, um floater na junção e já está! Vejo as ondas de trás a fechar e tenho que passá-las todas “por baixo”. Largo a prancha, sinto o strep a esticar demais e lembro-me que já tem uns pequenos cortes. Não me sinto com confiança, apetece-me ir embora… mas insisto e vou buscar mais uma. E depois mais outra, e outra a seguir. E outra, e outra, e mais outra! Fiquei quase uma hora, sozinho, a curtir umas ondas power numa praia deserta qualquer do outro lado do mundo!

Depois de sair, fiz duas sandochas com o queijo Cheddar que tinha comprado no supermercado de Raglan (Pinho, a faca do mato esta a dar muito jeito) e fiquei ali um bocado, sentado na relva, só a olhar. Missão cumprida. Iam ter orgulho do vosso amigo hoje.

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