Sorrisos de graça
Koh Lanta, Tailândia
23 Novembro 2007
Quando andava pelo México e a América Central, já lá vão uns meses, havia um anúncio do Ministério do Turismo do Panamá que passava com bastante frequência na televisão. A mensagem era principalmente focada nos preços mais baixos que, pelo menos teoricamente, se encontram no país.
Enquanto passavam imagens a condizer, ouvia-se: “Aqui, a comida é mais barata. Aqui, a roupa de marca é mais barata. Aqui, os bilhetes de avião são muito mais baratos. Aqui, a tecnologia é muitíssimo mais barata”. E terminava com um senhor de barbas, que parece que é famoso, a dizer: “E os sorrisos, esses são de graça!”
Gosto de anúncios e de os avaliar sempre com uma perspectiva crítica tendo em vista o seu objectivo e, ao contrário das vozes da “opinião pública”, não achei disparatada a campanha AllGarve. Já este anúncio do Panamá, acho um bocadinho enganador porque, na verdade, os preços não são assim tão mais baixos do que nos países vizinhos. Em algumas coisas, como os bilhetes de avião, são bem mais caros, neste caso devido ao quase monopólio da Copa Airlines. E, quanto aos sorrisos… bem, digamos que, taco a taco com Mexicanos, Peruanos ou Salvadorenhos, os Panamenhos não são propriamente o melhor exemplo de povo sorridente.
Ora, tivesse sido feito pelo governo da Tailândia, com uma rapariga morena de olhos rasgados em vez do tal senhor de barbas, este anúncio era perfeito! Principalmente no que respeita aos sorrisos. De facto, o sorriso é praticamente uma instituição neste país.
Ao contrário dos seus vizinhos Vietnam e Cambodja, o povo tailandês não tem um passado recente de guerras e opressões. Na rua, não é comum ver pessoas com a cara deformada pelo efeito do Agent Orange despejado pelos Estados Unidos durante a guerra, nem sobreviventes amputados do movimento genocída de Pol Pot. Talvez por isso, a Tailândia seja um país mais feliz.
Desfazendo algum preconceito pouco racional, tenho-me surpreendido bastante com os muçulmanos. Ou, para ser mais sincero e exacto, com as muçulmanas. Debaixo do lenço, véu e das roupas maioritariamente escuras que as tapam por completo debaixo dos 30 graus que se fazem sentir, tenho encontrado pessoas com uma tranquilidade alegre invejável e com um sentido de humor com o qual me identifico plenamente.
– Gosto quando sorris – diz uma das anfitriãs nos bungalows de Koh Lanta.
É que eu sou mais do tipo Panamenho… e bem tenho tentado zangar-me com a senhora da agência de viagens que impingiu um hotel, com o funcionário da estação que se enganou a indicar o comboio correcto ou com o motorista do tuk-tuk que tenta sacar o seu. Mas lá vem o sorrisinho acompanhado de uma expressão qualquer engraçada a prolongar a última sílaba e, pronto, fica sempre tudo bem!
Aqui, os sorrisos são mesmo de graça. E isso faz toda a diferença.