Rio de la Plata

Há uma diferença das culturas deste lado da cordilheira. Os Argentinos têm rasgos reconhecíveis no povo Brasileiro e Uruguaio. A generalização é contestável mas, para mim, evidencia-se com alguns traços como o humor (relacionado com o clima), o desfrute do lazer, a lassidão, a própria maneira de levar a vida, os horários, os prazos e os tempos.

Buenos Aires está junto à Foz do Rio de la Plata. Começou por ser um porto estratégico para os Espanhóis, que se contrapunham aos Portugueses colonizadores de Sacramento, no Uruguay, pelo domínio do tráfico e contrabando de bens que se fazia neste rio. A cidade desenvolveu-se historicamente como um porto, recebeu vagas de imigrantes italianos que vinham “hacer América”, (que em muito se diz terem contribuído para essa personalidade do “porteño”), e que inicialmente se concentraram no bairro La Boca, conhecido pelo aspecto pitoresco, as chapas coloridas, pelo clube de futebol, por ser turístico mas perigoso. Ao norte de La Boca parte o canal de diques, com a nova zona residencial, comercial, financeira e de lazer, fruto de uma intervenção urbana intensa na área onde estavam os antigos galpões industriais do Puerto Madero. Uma alteração próxima da que sofreu Lisboa com o Parque da Expo98, Barcelona com a Expo92, Rotterdam, cidades portuárias com ex-industrias obsoletas. A engenhosa Puente de La Mujer (pode girar sobre um eixo e abrir-se) é do popular arquitecto Santiago Calatrava, e está ladeada dos barcos turísticos.

Preciso optar entre os vários bairros e acabo em Recoleta. É um dos bairros mais concorridos, com melhor qualidade de vida, espaços verdes e muitos museus. Gente da minha idade, aristocracia que vive aqui, muitos hippies (com cães, filhos) malabaristas, muitas feiras, muito artesanato, muitos turistas, muita gente da cidade que vem para aqui ao fim de semana passear e “fazer praia” na relva. No Museo de Bellas Artes que tive a sensação de “prometido-devido” (que me recordo bem das viagens a Itália, do Reina Sofia e do Prado), ver finalmente as obras que vi muitas vezes nos livros de História de Arte. Para os testes decorei os nomes e descrições de quadros que agora vi: de Renoir, Degas, Monet, Courbet, Manet, Cézanne, Toulouse Lautrec, Delacroix, Goya, Sisley, Chagal, Miró, Modigliani, Diego Rivera, Kandisky, Paul Klee, Chirico, Rothko. E para minha grande satisfação e emoção, Van Gogh, Gauguin e por fim Rodin. Gauguin e o Rodin concentram as pinturas e as esculturas (respectivamente) que eu mais gosto. Dentro do museu não se pode tirar fotografias, por isso, desenho as esculturas.

No dia de partir de Buenos Aires, o lado frenético do trânsito automóvel revelou-se. O táxi, a prancha a sair fora da janela, a loucura para percorrer uma parte da cidade até chegar ao terminal onde ia apanhar o ferryboat. Por fim chego a tempo, instalo-me na parte de cima do barco, junto com os turistas que apanham sol. Os Porteños fazem das zonas costeiras do Uruguay a estância de férias de Verão, para fugir ao crescente mediatismo da zona de Mar del Plata.

Cheguei a Colónia de Sacramento debaixo de temperaturas abrasadoras. Novo país, nova fronteira, novo carimbo no passaporte, as mesmas perguntas sobre a prancha. Vim aqui porque a cidade antiga foi colónia Portuguesa, é hoje património mundial Unesco… enfim porque, mais uma vez, os livros do Gonçalo Cadilhe me encaminharam para novos lugares. Este foi o lugar fora de Portugal, de entre os que já vi com núcleos de matriz portuguesa, mais parecido com alguns centros históricos rurais do meu País. É um espaço guardado entre muralhas de um forte, conservado no tempo relativamente intacto, onde reencontro “Portugal cá fora”, mas com essa arquitectura vernacular, informal, arquitectura sem arquitectos, mais do que uma arquitectura dita colonial (como a que existe no Brasil, em Marrocos). Pequenos museus-casa, um antigo farol, uma marina, tudo em proporções muito humanas, numa “cidade-rural”. As relíquias portuguesas, jóias, mobiliário, mapas antigos são o testemunho de que a nação portuguesa foi em tempos, protagonista-pioneira de intercâmbios e comunicações, que hoje se chamariam “globalização”. Se assim não fosse provavelmente eu não estava aqui.

Fora da Colónia de Sacramento cresceu uma cidade em volta, onde existem edifícios de poucos pisos, passeios com árvores, e uma vida comum que me continua a recordar Portugal. Contudo, nos centros históricos portugueses assiste-se com frequência a uma maior falta de coerência e diálogo (que não tem necessariamente que ser de continuidade de linguagem) entre as novas e as velhas arquitecturas. A regulamentação nem sempre jogou a nosso favor da (re)criação dos bens de todos (como a paisagem e a cidade), e o excesso de permissividade sempre se aliou muito bem à corrupção autárquica.

 

 

Por Sofia Valente
A Sofia é uma surfista do Porto que está na América do Sul a fazer um ano do curso de arquitectura e, claro está, a viajar e a surfar sempre que pode.

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