Quem espera… sempre alcança?

“Waiting for waves is ok. Most people spend their lives waiting for nothing.”

Esta era uma das frases utilizadas numa campanha de uma conhecida marca de surf que tentava mostrar várias situações e emoções pelas quais um surfista passa. Lembro-me dela todos os dias durante a minha estada em El Salvador.

À espera de ondas em El Tunco, El Salvador

De facto, uma tempestade localizada no sul do México está a afectar as condições meteorológicas dos países mais a norte da América Central e, desde o segundo dia, o tempo tem estado bastante instável. A alguns períodos de sol, normalmente pela manhã, sucede-se céu encoberto, chuvadas tropicais e alguma trovoada intensa pela noite. Ontem, por exemplo, se eu fosse gaulês e vivesse na aldeia do Asterix, tinha ido perguntar ao druida Panoramix se era desta que o céu nos ia cair em cima. Nas ondas, esta instabilidade reflecte-se num mar demasiado balançado e ondulações pouco alinhadas, o que deixa todos os picos da zona abaixo das suas reais potencialidades.

Ainda assim, faço surf todos os dias pela manhã, antes do vento, e muitas vezes ao final da tarde. Aproveito o resto do dia para fazer o reconhecimento das praias e dos points de surf. Às vezes, vou primeiro só para ver, sem prancha nem máquina fotográfica. Vejo como se chega até ao sítio, se há algum bar onde deixar as coisas, se há “miúdos da droga” a tentarem roubar os gringos, como se entra e sai da água, etc.

El Tunco, El Salvador
Praia de El Tunco, El Salvador

 

No dia seguinte vou para surfar, muitas vezes apenas de calções e prancha. Levo no bolso a chave do quarto e as moedas necessárias para os autocarros. Mais nada. Nem chinelos, nem t-shirt, senão desaparecem enquanto estou na água, como aconteceu ao Richard. Ninguém estranha eu ir assim no autocarro.

Mas, não se deixem enganar, estou a passar dias fantásticos, talvez os mais tranquilos e divertidos até agora… e até decidi esperar aqui por “melhores ventos”, descartando a Nicarágua do itinerário, que está também a ser afectada pela mesma tempestade e onde chegar até às ondas é relativamente mais complicado. De San Salvador irei directo para San Jose, na Costa Rica, atravessando a Nicarágua e uma parte das Honduras, numa viagem de autocarro que durará, pelo menos, dezanove horas.

Os locais de El Tunco, não ficando propriamente eufóricos por receber surfistas de fora, também não exercem qualquer tipo de localismo e, com algum tempo, fazem-nos mesmo sentir em casa. Além deles, conheci algumas personagens que gostava de vos apresentar.

Óscar: Dono do Hotel Roca Sunzal, o melhor sítio para ficar. Muito alegre e entusiasta de fiesta. Tem vindo a desenvolver o seu projecto com muita qualidade e todas as manhãs reúne com o staff para fazer o balanço do dia anterior. Chama-me “Portugal” porque nunca se lembra do meu nome.

Canadianas: Duas miúdas canadianas de 19 anos que estão a acabar um mês de voluntariado num orfanato de Santa Tecla, San Salvador. Vieram passar os últimos quatro dias à praia. Inocentes e ingénuas, quase eram “enganadas” por dois empregados do bar que as convenceram a ir beber cervejas para a praia à noite. Tudo acabou bem.

Mike: Americano, de Los Angeles. Médico acabado de se formar e em férias de pré-inicio do internato da especialidade. Tem uma perna toda raspada, recordação de um mau cálculo ao sair de Punta Roca, que tem de tratar todas as noites. Deve fumar umas coisas porque está sempre com os olhos muito vermelhos e fala muito devagar.

Richard: 53 anos, americano da Virgínia e surfista viajado. Terá sido dos primeiros estrangeiros a viajar para as Mentawai e para G-Land, na Indonésia, quando ainda não havia surf-camps. É o meu companheiro em Sunzal. Está apaixonado por uma Nicaraguense de 28 anos e vai levá-la para viver nos EUA. Partem na sexta-feira, se ela não falhar ao encontro no aeroporto de San Salvador. Deu-me várias dicas de surf para a Nicarágua e Costa Rica, inclusive direcções precisas para um secret-spot perto de Pavones.

Jesus: Um dos empregados do bar que levou as canadianas para a praia e bom surfista nos tempos livres. Depois da tentativa falhada, teve a amabilidade de me dar carta branca para tentar eu a minha sorte com uma delas. Tem medo de ficar “marcado” pelos locais de La Libertad se nos levar a surfar em Punta Roca.

Charlie Brown: Outro empregado do bar. 100% católico, não bebe, não fuma e não tem vícios. Lembra-se sempre do meu nome e da cerveja que eu gosto. Muito porreiro, passa várias horas à conversa comigo e com o Richard.

Hotel Roca Sunzal, El Salvador
Hotel Roca Sunzal – El Tunco, El Salvador

 

Holandeses: Dois jovens holandeses de vinte e poucos anos, que compraram um Ford Escort no Canadá e pretendem descer até ao Chile. Não sabiam que não é possível passar do Panamá para a América do Sul por terra. “Se calhar então vamos ter que deixar lá o carro”. Ainda estão magoados com os portugueses por causa do Mundial.

Depois há o gang de Hollywood, um grupo de “cameras” e assistentes de produção que trabalham em algumas séries e espectáculos bem conhecidos (Óscares, MTV, Dr Phill, Dr House, etc). É o segundo ano consecutivo que viajam para El Tunco para comemorar o aniversário de dois deles, pai e filha. Entre os quais:

Growler e Ashley: Pai e filha aniversariantes no mesmo dia. Fizeram uma festa onde eu, o Richard, o Mike e as Canadianas entramos meio à penetra. “Obrigado aos meus novos amigos da mesa três” – disse Growler divertido durante o discurso de agradecimento. Estamos todos convidados para o próximo ano.

Susan: Namorada do Growler, loira, cerca de 45 anos e 180 de silicone. É conhecida, num meio mais restrito, por “melon woman”. Dizem que também é muito simpática mas, honestamente, não consegui reparar em mais nada.

Mr Parker: 60 anos, surfista. Desabafa comigo, no fim da noite da festa, que está com alguns problemas em casa, que a mulher “anda zangada” há muito tempo e que lhe tem dificultado um pouco a vida. Mas que esta viagem lhe está a fazer ver as coisas de outra forma. Combinamos encontrarmo-nos no pico no dia seguinte para surfarmos umas ondas juntos.

E não me posso esquecer dos animais:

Mono: Há um macaco, que talvez tenham visto no filme, que antigamente estava fechado numa jaula. O Óscar, dono do hotel, comprou-o ao antigo dono e agora anda solto. Costuma ir bater na janela do quarto das Canadianas. Elas têm medo, coitadinhas.

Gatonejo: Uma atrocidade humana ou da natureza. Um animal que é meio gato e meio coelho. A metade da frente tem corpo, cabeça e patas de gato. A metade de trás tudo de coelho. Quando foge nem se percebe de corre ou se salta.

Waiting for waves is ok. Principalmente com uma tropa destas para ajudar a passar o tempo.

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