Que le vaya bien – um adeus ao Peru

Arequipa, PeruAinda pensei em vender o bilhete antes de entrar no bus que ia de Puno para Arequipa. Houve um deslizamento de terras na estrada que eu ia percorrer, apanhou um bus de uma companhia low cost na qual eu tinha já tinha viajado. Mas decidi partir.

No início da viagem entrou um peruano que esteve mais ou menos uma hora a apresentar o produto que vendia: um dentífrico. Quando finalmente vendeu a pasta de dentes “milagrosa” a todos os passageiros, inclusive a mim, relembrou num último discurso que usássemos sempre o cinto de segurança, que o motorista conduzisse com prudência, e que Deus nos bendiga. Saiu no meio do deserto árido. Seguiu-se a cumbia da rádio, depois um filme com o Jet Lee. Depois parámos para o motorista comprar comida; aproveitei para ir rápido ao WC – umas latrinas indescritíveis. Voltei a correr porque me passou pela cabeça que o bus partisse sem mim, e com a minha mochila. Mas quando cheguei, tudo tomava o seu tempo: estavam 4 mulheres a bordo cada uma com a sua venda: chicharrón (pernas de frango fritas), tortilla de camarón, papas rellenas (batatas recheadas) e Inca Cola (a bebida nacional). Ao fim de meia hora partimos, sentou-se um peruano idoso ao meu lado. Quando saiu disse-me “que le vaya bien señorita”, uma frase que também já me habituei a dizer por tanto ouvir aqui na América do Sul. Esta foi uma viagem “tradicional” no Peru. Cheguei a Arequipa cansada, de noite e sem hostal marcado. Acabei por ficar num dos piores hostal onde já estive, mas nada que não tenha resolvido. Na manhã seguinte troquei para um dos melhores onde já estive, e paguei o mesmo.

Só de manhã vi Arequipa, a ciudad blanca. A luz é tão clara que ofusca, o ar é seco e o céu azul. Quase todo o ano é assim. A cidade é branca porque os conventos e catedrais foram feitas com sillar, a pedra vulcânica da região. Mas também é branca porque atrás dela, a enquadrar a Plaza de Armas, estão três montanhas cobertas de neve – El Misti, Chachan e Pichu Pichu, todas com mais de 5.500m. Por estar neste vale, Arequipa já sofreu alguns terramotos e erupções vulcânicas ao longo da história. A arquitectura deixada pelos Espanhóis foi o que melhor sobreviveu a esses desastres. É um paradoxo que os vulcões que fornecem a lava com que se ergueu a cidade, sejam os mesmos que a podem arruinar. Como muitas cidades coloniais espanholas, Arequipa foi traçada segundo uma retícula de quarteirões “manzanas”. É a segunda maior cidade peruana, com 1 milhão e 200 mil habitantes, e pejada de minas na sua envolvente. Aqui nasceu Mário Vargas Llosa.

Ao meio-dia abrigo-me do sol debaixo das arcadas da Plaza de Armas. Aproveito para abrandar o ritmo antes de partir para o Cañon de Colca. O Cañon do rio Colca é o desfiladeiro mais profundo do mundo. A altura média dos taludes ronda os 3.250m, mas chega a atingir os 4.160m. O rio segue num vale que se vai “empinando” até se transformar numa garganta – duas paredes quase verticais. Ao longo do vale estão várias aldeias. Almocei em Chivay com uma família limeña que me convidou: cazuela, pollo com papas e bebida por cerca de 1 Euro. Em Chivay estão umas termas turísticas junto à montanha. Valia mais o passeio pelo parque das “termas” que o mergulho nas piscinas artificiais, mas a entrada era cara. O guia ajudou-me a passar a entrada sem pagar. Os trajes das mulheres são bordados minuciosamente, com a fauna e flora. É impressionante a variedade da arte dos tecidos no Peru. Os figos dos cactus que se vendem servem para comer, para fazer shampoo, para o “mal do fígado” e para produzir o Colca Souer (bebida alcoólica). No vale existe agricultura até aos 4.000 metros.

A Cruz del Condor está sobre a garganta do Colca. Este é o ponto onde se avista o condor voar, na sua primeira caça, quando o dia nasce. Já tinha visto muitos ao longo dos Andes Chilenos, mas nunca vi tantos ao mesmo tempo e tão perto. Fazem voos picados e flutuam nestas primeiras horas da manhã. Aproveitam as correntes de ar morno que ascendem desde o fundo do vale para pairar no ar. O condor é a maior ave do mundo, a extensão das suas asas abertas pode chegar a 4 metros, come animais mortos depois de dias a sobrevoá-los. Com o silêncio e o vazio do cañon, o movimento deles parece um filme em câmara lenta. Depois amanhece e os condores recolhem. O rio corre rápido, estreito e sinuoso no meio dos “monumentos” que são estas montanhas.

Regresso à viagem, de retorno à fronteira em Arica. No Terminal 2 de Arequipa, o não turístico, o que os arequipeños usam, havia uma idosa a pedir esmolas e comida. Dei-lhe umas bolachas que eu não gostava muito. Com a reacção dela, vi-me obrigada a dar-lhe a fruta que tinha. Agradecia-me emocionada. Algumas pessoas olharam para mim. Deviam pensar que eu era mais uma “gringa”, convencida das suas boas acções. Eu acho que estou longe das duas coisas. Entrei de novo num bus. Desta vez, na parte da bagagem vão galinhas a cacarejar. Não me incomodam. Tentei ouvir só a minha música e vi o deserto a passar.

Só viagens, paisagens e países assim, podem tornar-nos mais tolerantes e mais “despertos”. E afinal “todo me fué bien”.

 

 

Por Sofia Valente
A Sofia é uma surfista do Porto que está na América do Sul a fazer um ano do curso de arquitectura e, claro está, a viajar e a surfar sempre que pode.

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