Punta Arenas

A Bárbara, uma companheira da faculdade chilena, e a sua família receberam-me durante estes dias. A nós juntou-se outro amigo, o Nicolas, com quem gozamos dias solarengos aqui no extremo sul.

Do outro lado do estreito vê-se a Tierra del Fuego e várias ilhas que conformam o canal descoberto e baptizado (num raro dia de bonança) por Fernão de Magalhães e que, até à abertura do Canal do Panamá, foi usado como ponto de passagem entre o Atlântico e o Pacífico. Aqui navegaram piratas como Drake e viveram tribos como os Tehuelches, os Onas, os Kaweskar, os Yamanes e, entre estes, os homens que o navegador português denominou de “Pathagon”.

Punta Arenas é uma cidade salubre, pequena e bonita. O modelo de cidade é americano, as ruas são largas num traçado reticulado onde, graças à topografia original, se vê o mar do estreito ao fundo das ruas, a linha de horizonte vista da zona central da cidade. As casas são de dois pisos, os passeios têm relva e árvores. Na praça principal está uma estátua do Magalhães com o famoso Patagão. A marginal do estreito permitiria, na Europa, uma especulação imobiliária desenfreada; as vistas são generosas, a cidade é boa para se viver. Foi colonizada por croatas e jugoslavos, e a sua arquitectura permaneceu para além dos nomes das ruas. Aqui os dias são até às 22:30, aproveitamos ao máximo.

A minha amiga Bárbara está a fazer o projecto de planeamento urbano dessa nova marginal que a cidade merece. No Chile, em comparação com Portugal, ainda não há tantas marginais maciças com torres de habitação e as primeiras propostas de requalificação de frentes de mar são agora uma enorme oportunidade para o País. Esperemos que alguns dos erros portugueses, como a pressão sobre as frentes marítimas, aqui nunca se venham a suceder. Aqui está-se no fim do mundo, sereno, só invadido por ventos na ordem dos 140 km por hora (daí as cordas na rua), e longe. Este é o verdadeiro fim.

Vi o cemitério Sara Braun e ainda fui até ao Fuerte Bulnes, a caminho do ponto mais austral do continente sudamericano. Passei por aldeias de pescadores e mais uma vez a sua condição de isolamento é surpreendente. Vivem da pesca em travessias que fazem, quando o mar está bom, até Puerto Williams, na Isla Navarino. Estes são os únicos homens não ricos que têm acesso a uma das zonas mais inóspitas do País e do mundo; navegam por sub-canais do estreito de Magalhães, alguns onde só pouquíssimos cientistas têm bases de investigação no gelo ou em zonas declaradas parque nacional, mas que são inacessíveis.

Além das reservas de pinguineras mais próximas de Punta Arenas, há um enorme conjunto de ilhotes onde as baleias vão acasalar e alimentar-se, depois de viajarem desde a costa brasileira. Só que ver isto implica ter muito dinheiro, ir para um campo científico, sem levar nada. Sem comida, sem lixo, oferecem tudo: é o turismo do luxo máximo. Mais extremo só mesmo o preço de um voo à base chilena na Antartica. Eu e a Bárbara vimos a apresentação powerpoint da empresa de cientistas que realiza estas expedições às ilhas. Ficámos surpreendidas, queríamos ir, perguntámos preços, terminámos todos a rir: “somos mochileras, estudiantes…”. “Queden con la publicidad, por si acaso interesa a vuestros papas!” – os meus pais, mesmo que se interessem, juntar-se-iam à maioria dos chilenos que não tem orçamento para ver a relíquia natural. Mas eu fico contente, e as baleias também devem ficar.

Passei bons momentos com a Bárbara e o Nico. O ritmo de vida aqui é mais relaxado, dá-nos tempo para pensar no tempo, na forma como as pessoas vivem hoje o seu tempo de vida. Trocámos ideias sobre os livros do Jorge Luís Borges, Cortázar, pergunto coisas sobre a Violeta Parra, Victor Jaras e do grupo chileno Inti Illimani. Conversámos sobre o que será o nosso futuro, depois destes anos mal dormidos em Arquitectura. Nenhum sabe ainda onde quer viver, o que quer ser “quando for grande”, mas todos sabemos o que não queremos: escritório, vida sem tempo para viver, e contribuir para o enorme desequilíbrio de alguns lugares do mundo. Temos ideias para supri-lo. O sul é propício a este tipo de fruição e o Chile, ainda bem, não foi tão afectado pela crise mundial, nem pela sua mediatização.

 

 

Por Sofia Valente
A Sofia é uma surfista do Porto que está na América do Sul a fazer um ano do curso de arquitectura e, claro está, a viajar e a surfar sempre que pode.

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