Troncones
Troncones, México
28 Abril 2007
A onda é uma esquerda meia cheia. Tem um bom drop junto às pedras mas depois enche depressa. As maiores dão para mandar uma batida, dois ou três cutbacks… e está feito. Não é “lá essas coisas”, mas é uma boa onda para a primeira surfada no México, para a primeira surfada desta aventura que vai atravessar tantos países em tanto (ou tão pouco) tempo. É boa para a primeira surfada após dois ou três meses sem ir à água por causa dos preparativos e da preocupação com viagem.
Afinal, quem nunca foi ou pensou ir só atrás de uma imagem? De uma foto numa revista, de uma história contada ou de um feeling que naquele recorte de costa poderia estar uma onda.
Em Zihua, pesquisava o mapa e a Internet a tentar decidir o que fazer. O plano inicial era subir até Nexpa e La Ticla, duas boas ondas (dizem) já relativamente bem referenciadas em guias e sites de surf. Falei com uns americanos que tinham chegado de lá e parece que as coisas não estão assim tão boas. Muito crowd, fundos muito instáveis e um ambiente de localismo de cortar à faca! Mmmmmm… não sei se me apetecia começar assim.
Ao pesquisar o Wannasurf, um site relativamente bom onde são os próprios utilizadores a alimentar informação, vejo uma esta foto que me faz parar. Leio a descrição e percebo que é perto de Zihua. “Em duas horas ponho-me lá. Na pior das hipóteses, vou e venho” – penso cá para comigo.
Troncones é um paraíso perdido no fim do mundo. O bus deixa-me no entroncamento da estrada principal com o desvio para a povoação. Daí, tenho que apanhar uma combi que “há-de aparecer”. Saio prematuramente no centro (o cruzamento com a estrada de terra que percorre a costa), mas a tal baía, com a tal onda, fica a 3 km de distância. Imagino-me do outro lado da história, a ver, daquele boteco onde está o casal de americanos reformados a tomar o pequeno-almoço, um jovem a sair da combi com uma mochila às costas, duas pranchas a tiracolo e um saco-mala com rodinhas… a olhar em volta, completamente perdido mas com um ar de confiança tremendo. A minha história de volta ao mundo fascina qualquer pessoa, particularmente os menos jovens, que provavelmente compreendem melhor a importância e o efeito que uma coisa destas pode ter.
– It will change you! – diz-me o senhor depois de se auto-críticar pela politica económica e internacional americana.
Peço boleia, que rapidamente arranjo com outro casal de americanos no seu último dia de férias. Este pueblo (e quer-me parecer toda esta zona mais a norte) está dominado por americanos. São eles que compram os terrenos e constroem as casas e os hotéis novos ao longo da estrada costeira com, devo admitir, muita ordenação e excelentes condições. São eles também que vêm montar negócios e passar férias, mas nota-se que são pessoas de média-alta sociedade.
Hospedo-me na Hacienda Eden, onde está a haver um retiro de yoga, num quarto fantástico com uma varanda de frente para o mar. É um hotel daqueles “pé na areia” e o pico de esquerda fica a dois minutos de caminhada pela areia. A recepcionista, que também explora a pequena loja de artesanato, conhece Portugal e é amiga do Henrique Balsemão (fundador da revista Surf Portugal).
– Estive lá na Carrapateira quando ele estava a construir o sítio dele. Convidou-me para ficar a trabalhar… qualquer dia ainda vou ou faço uma parceria com ele!
Isto é menino para me custar duas vezes o meu orçamento diário, que terei que recuperar noutro sítio qualquer, mas decido ficar três dias. Nem é pela onda, que nem é “lá essas coisas”. É mais pelo sítio e pela forma como vim aqui parar, sem saber ler nem escrever.
PS – Ah, é verdade… adoro ser tratado por “jovene” (ler com sotaque espanhol).