Não vou estar com rodeios, estou rendida aos Estados Unidos. Adoro os espaços abertos, os jardins, os parques, os esquilos, os museus grátis (só em Washington DC até agora), os livros, os concertos grátis (Jazz todas as sextas no jardim do Smithsonian; programa variado no Busboys and Poets), a comida (ainda nem entrei num MacDonalds), as ruas limpas, a quantidade absurda de árvores, etc.
Mas, sobretudo, estou rendida aos americanos. Sim, os que têm a má reputação no resto do mundo, os que nos deram o Bush e os que correram com ele.
Não encontrei um país cheio de gordos viciados em MacDonalds mas um país com gente de todo o lado, com curiosidade sobre a Europa, de conversa pronta com alguém que acabam de conhecer – quantas vezes fazemos isso em Portugal?
Tenho recebido uma enorme lição em humildade, em receber estranhos de braços abertos, em entrega genuína. Uma das experiências mais marcantes foi receber um pedido para cuidar da casa durante a semana de férias da senhora em questão. A senhora tinha acabado de me conhecer e deu-me as chaves da casa. Assim, sem grandes complicações. Aliás, demorou mais a explicar-me como abrir a porta das traseiras do que a dar-me as chaves. E tinha toda a razão, cinco noites na casa e ainda não sei fechar bem a porta…
Quando caminho pelas ruas de Washington, às vezes perco-me entre as árvores, as casas de cimento ladeadas por casas de madeira, espanto-me com as ruas limpas e com o tamanho delas (Portugal é mesmo um país geograficamente pequeno) basta olhar nos olhos ou na direcção de alguém para receber os bons dias, um sorriso ou ambos.
Não dão apenas direcções, saem do caminho deles para mostrar. Mesmo que implique um desvio de vinte minutos.
E coisas más? – perguntam-me os cépticos. Tenho cada vez mais noção que o senado/governo/congresso têm imensas regras e ordem mas que o americano comum, o que fala comigo na rua, se sente preso, não tem muita liberdade ou espaço de manobra. Sinto também que o sistema de educação é muito mau (há livros de história actuais a indicar o Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos) sobretudo nas zonas pobres.
A questão da segurança não me tem afectado pessoalmente, não mais do que ter de abrir a bolsa ao entrar nos museus. Mas depois de ver uma jovem na fila para entrar na galeria nacional de arte a tirar uma faca enorme do bolso concordo plenamente e não me importo nada de esperar dois minutos até todas as bolsas terem sido revistadas.
E, sim, tanta simpatia pode ser vista como ingenuidade mas prefiro acreditar num mundo de pessoas simpáticas do que num mundo de pessoas com vergonha ou com demasiada pressa para se aperceber que tem outras pessoas à volta.
Parto amanhã de manhã para New York, vamos lá ver se a minha opinião muda. Aceitam-se apostas…