Nota: Devido à burocracia europeia e à minha visita aos Estados Unidos a minha aventura Tailandesa está de molho, por assim dizer. Se não acontecer nada em contrário, regresso à Tailândia pouco depois do meu regresso dos Estados Unidos.
Ainda no aeroporto internacional de Bruxelas comecei a notar algumas diferenças. Quase todas em mim. Durante dez longos minutos não me apercebi que estava na Europa e preparei o passaporte para o carimbo da praxe. Os últimos três países que visitei tinham um super controle de passaportes à chegada: vistos, carimbos e, no caso do Vietnam, guardas com um sentido de humor estranho. Estava na fila com uma senhora da Etiópia que me tinha assustado em Bangkok, com indianos e paquistaneses e vários asiáticos, mesmo assim ainda precisei de alguns minutos para acordar e mudar de fila.
Perdi alguns minutos para programar o meu cérebro para voltar a falar francês (o meu flamengo limita-se a comida e algumas direcções), no entanto agradeci algumas pessoas com “Kob kun ka”. Aposto que, no fundo, apreciaram.
Mesmo depois de recolher a mochila ainda tive dificuldades em saber para porta me dirigia: EU ou Não-EU? Após observar algumas pessoas segui a lógica da minha nacionalidade e dirigi-me para a porta EU. O segurança olhou para a etiqueta da minha mochila e mandou-me para a porta Não-EU. Aparentemente a lógica a seguir é a do local de partida. Certo. Não me vou esquecer.
Estava acordada há mais de 25 horas e sentia frio pela primeira vez em meses mas as coisas começaram a melhorar mal vi a minha amiga. Estava com um ar cheio de sono, coitada. Levou-me logo a uma padaria e a uma charcutaria e disse-me para escolher o que quisesse. Não sei explicar a minha alegria extrema ao ver das filas de queijo – na minha vila na Tailândia não se consegue arranjar queijo ou leite fresco, apenas leite achocolatado. Quando não aguentam mais, os voluntários vão até a cidade mais próxima (a quatro horas de viagem) comprar lacticínios – e confesso ter soltado um guinchinho ao ver a minha tarte de morango preferida. Sim, este regresso inesperado ia correr bem.
Atravessei a rua em todos os pontos menos na passadeira admirada com a falta de carros, bebi leite emitindo sons de felicidade e devorei um frasco de azeitonas enquanto olhava arregalada para a quantidade de chocolates que a minha amiga colocara à minha disposição. (Voltei ao meu comportamento não-selvagem após uma semana de verdadeira javardice, não se preocupem.) Nunca na vida tinha misturado tantos sabores ao mesmo tempo.
Eis uma pequena lista de outras coisas estranhas que fiz nos primeiros dias:
– Perdi-me numa cidade pequena.
– Fui parar a uma auto-estrada sem me aperceber.
– Apanhei o comboio errado.
– Perdi-me numa cidade grande.
– Entrei nos correios, esperei vinte e cinco minutos numa fila apenas para me aperceber que me tinha esquecido do que queria.
Para além da minha óbvia falta de memória, finalmente compreendo porque é que os não-ocidentais têm dificuldades em se ambientarem. Não é fácil. O próximo emigrante não-ocidental que conhecer vai receber um abraço, sugiro que sigam a minha sugestão.
Agora que estou ambientada e a papelada parece estar quase pronta, comecei a estudar o meu guia para os Estados Unidos. Vou a Washington DC, New York e talvez Boston. Recomendações, dicas e avisos são bem-vindos.