O Estado, ainda e sempre

Quando decidi mudar-me para a Tailândia fui verificar onde ficava a embaixada portuguesa mais próxima, não previa uma enorme vontade de ver a bandeira nacional mas sabia que eventualmente perderia o bilhete de identidade ou passaporte (ou ambos). Outro motivo importante foi a minha experiência num hospital na Letónia, digamos que passei a apreciar o trabalho de um tradutor/interprete como nunca pensei ser possível. Fiquei muito contente por saber que tinha uma embaixada em Bangkok. Com o passar dos meses e conforme as páginas do meu passaporte se iam enchendo de carimbos, vistos e assinaturas estranhas fui ficando cada vez mais grata por ter uma embaixada no país onde vivia. A cinco páginas do fim do meu passaporte a minha melhor amiga convidou-me para a visitar em Washington D.C. onde estará a trabalhar até Setembro. Naturalmente disse logo que sim. Para os desinformados as novas regras (para os países isentos de visto) para visitar os Estados Unidos implicam ou um visto (com entrevista na embaixada) ou um passaporte de leitura biométrica/óptica e avisar o SEF americano da nossa chegada até dois dias antes (neste site, por exemplo). Eu tinha um passaporte anterior a 2006, anterior a esta história digna de Brian Aldiss e Phillip K. Dick de micro-chip e assinatura digital. Quando entrei na embaixada portuguesa em Bangkok tinha 3 páginas vazias e um plano de visitar um tio em Boston já que não é todos os dias que se vai aos Estados Unidos. Na embaixada, depois das devidas introduções, seguiu-se o seguinte diálogo (apresento a versão curta, não se preocupem):

– A senhora não é residente na Tailândia.
– Estou cá a viver desde Fevereiro e devo ficar no mínimo até Fevereiro do ano que vem, acho que isso significa que vivo cá.
– Não tenho nenhum documento na sua ficha que prove que está cá legalmente.
– Tenho um visto não-imigrante que só se pode obter com um convite de uma empresa ou organização reconhecido pelo governo tailandês, a embaixada tailandesa aprovou o visto…

(esta parte do diálogo repetiu-se como um belo concurso de lógica e teimosia)

– Precisa de pedir à sua ONG uma carta de empregador. Não sendo residente cá não lhe posso dar um passaporte novo.
– Se conseguir essa carta hoje antes que fechem posso fazer o passaporte?
– Não.
– E por quê?
– Ainda tem páginas vazias no passaporte, pode pedir um visto à embaixada americana.
– Tenho alguma dificuldade em perceber por que razão devo pedir um visto a um país para o qual estou isenta de visto. Além disso, tenho 3 páginas, uma para o visto, uma para o carimbo da imigração e depois para voltar à Tailândia preciso de mais duas…
– Lamento não a posso ajudar. São as regras.

(pausa para respirar fundo)

– Então e se o passaporte for roubado?
– Nesse caso teria um passaporte novo.
– Consegue seguir a lógica do que me está a dizer?
– Eeer… Naturalmente precisaria de uma declaração de roubo da polícia.
– Recapitulando, se fizer tudo legalmente e às claras tenho de voltar para Portugal para fazer um passaporte novo mas se o passaporte for roubado as coisas correm às mil maravilhas?
– Não precisa de voltar para Portugal, pode pedir um visto à embaixada americana.
– Acha normal uma cidadã portuguesa que não fez nada ilegal ter de ir resolver o seu problema temporariamente à embaixada americana e depois ter de cá voltar ou ir até Portugal? Eu não vivo em Portugal há quase quatro anos.
– Minha senhora, no seu trabalho a senhora tem as suas regras, eu tenho as minhas.

Enquanto digeria esta informação e o meu cérebro disputava ainda a lógica dos argumentos recebi emails e telefonemas de Bruxelas, aparentemente ainda estava registada na Bélgica e como tal tinha de pagar impostos. Et tu, Bruxelas? Proferi muitas obscenidades. Suspirei fundo. Fiz um telefonema longo para os Estados Unidos e marquei uma passagem para Bruxelas (se ainda estava registada podia bem fazer o passaporte na embaixada em Bruxelas). Proferi mais obscenidades. Enviei um email a alguns amigos a perguntar se me podiam dar guarida. A resposta quase eufórica com a possibilidade de me poderem ver agora e não em 2010 como planeado comoveu-me. Esqueci os meus problemas burocráticos. Estava a sorrir em antecipação.

Apesar de tudo, apesar de ser a pior altura para vir à Europa em termos financeiros acho que até foi melhor. Tenho sido mimada até dizer chega pelos meus amigos e vou a um casamento que pensei não poder ir. Eu pessoalmente não gosto de casamentos, mas gosto muito da minha amiga. E adoro fazer partidas. Como os noivos lêem o meu blogue tenho-me mantido quieta mas estou a organizar mil e uma coisas, desde uma despedida de solteira com muitos balões, vinho e um stripper a um vídeo comprometedor durante a cerimónia. Naturalmente os noivos sabem apenas que serei a DJ da noite (com a recepção serão cerca de sete horas de música) e que vou cozinhar comidinha portuguesa (ela é búlgara, ele turco e ambos adoram comida portuguesa) na véspera para os noivos estarem descansados a gerir os nervos.

Conheci este casal porque vim viver para Bruxelas, é quase um cliché é mas verdade o que dizem sobre encontrarmos (parte d)a nossa família por esse mundo fora. O estado que se dane, vou curtir os meus amigos.

 

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