Um tributo a todas as mulheres e namoradas de surfistas (e não só)
Eu sei que é giro. Sei que é giro dizer às amigas que o namorado “foi para o surf” e andar acompanhada de um corpo musculado e de uma cara sempre morena. É giro viver, ou estar próximo de quem vive, uma vida saudável de contacto constante com a natureza e o ar livre.
É giro conhecer praias desertas e viajar para destinos exóticos muito antes de serem invadidos pelo turismo como, por exemplo, a Indonésia, as Maldivas ou mesmo o nosso Sudoeste Algarvio.
E também é giro descobrir, nos filmes de surf do namorado, as últimas tendências musicais bem antes de começarem a passar na rádio ou aparecerem à venda na Fnac como, por exemplo, Pearl Jam, Smashing Pumpkins ou Jack Johnson.
É giro sair à noite com roupas relaxadas e ter muito material técnico de marca na garagem que não se sabe muito bem para que é que serve.
É giro incentivá-lo, acompanhá-lo em alguns campeonatos, ir com ele para a praia e tirar umas fotos ou dar-lhe a maior força para ir surfar. É certo que no regresso ele vai estar calmo, bem disposto, carinhoso.
E depois, é giro perguntar-lhe como estavam as ondas, ainda que não se perceba nada do assunto e a resposta não seja minimamente compreensível.
É giro, eu sei.
Mas esperem até começarem a viver o dia-a-dia em função de tabelas de marés e previsões meteorológicas. Esperem até senti-lo sair da cama às 8:00 da manhã de um dia frio de Inverno e voltar algumas horas mais tarde com as mãos e os pés ainda congelados.
Esperem até começarem a fazer férias fora de época e a ficarem alojadas num quartinho modesto em frente às ondas em vez do resort de quatro estrelas superior do outro lado da baía, perto das lojas e restaurantes.
Esperem até irem para o Algarve e nem porem os pés nas Vilamouras, Albufeiras, Locomomias e Trignometrias mas sim ficarem do lado onde o vento sopra, onde a água é mais fria e à noite se adormece cedo para poder aproveitar o dia.
Esperem até passarem horas dentro do carro, dividindo o lugar da frente com o bico das pranchas, a bater todas as estradas, caminhos e ladeiras que possam, eventualmente, ir dar a uma praia com ondas.
Esperem até que o tal corpo moreno e musculado comece a trazer sal e areia para a vossa cama, a deixar parafina colada no chão flutuante da sala e a pendurar fatos molhados dentro da banheira.
Esperem até começarem a sentir ciúmes, não daquela colega de trabalho bonita, mas das pranchas encostadas à parede do quarto que merecem, pelo menos, um minuto de atenção por dia.
Ser namorada de surfista é só para quem gosta a sério e sem condições. Não do surf, que é giro. Mas do surfista.
É mais giro ser namorada de surfista, e surfar também.
Se passei lá, certamente ficaram grãos de areia.