Mascando coca com o nome Davies

Entrada para o Inka TrailO condutor, que nos guiou pelos andes a caminho do início do Inca Trail tinha um aspecto horrível. Gordo e suado, sempre a tirar o pente do bolso para se pentear! Usava a buzina conforme lhe apetecia e sem qualquer razão aparente ao ponto de a utilizar como forma de assustar os simples transeuntes que estavam na berma da estrada. Cheguei a ver vários a dar saltos para o lado. Insistia em conduzir maioritariamente pelo lado esquerdo embora o trânsito, no Peru, seja efectuado pela direita. Pormenores… Usava uns fios e umas pulseiras de ouro para ostentar qualquer coisa que não percebi e insistia em mudar de estação de rádio antes das músicas chegarem ao fim. Cães, cavalos, burros, porcos e ovelhas atravessaram-se muitas vezes em frente do autocarro. A estrada serpenteava os andes com uma paciência infinita. Não chegamos a passar os 30 kms por hora e estava um calor abrasador.

As construções tinham algo de fascinante. Tijolos de adobe milimetricamente cortados em formas de paralelepípedo eram roubados às terras das montanhas para construir os mais variados edifícios. A técnica, provavelmente inspirada na construção dos iglos pelos esquimós, era extremamente prática e suficiente para as necessidades do local. Numa passagem de nível, a casa do guarda do caminho-de-ferro estava pintada com um logo da Coca-Cola desde o tecto ate ao chão. O alcatrão deu a vez ao estradão de terra desnivelado e esburacado.

Chegamos a Chincheros. Junto ao rio, centenas de homens lavavam louça, toalhas e tendas. Era o material de outras expedições. Recolhemos as nossas tendas e material e continuamos caminho. Passamos Urubamba e chegamos a Ollaytaytambo. A camioneta parou. Ainda não tínhamos saído e dezenas de mulheres, vestidas com os famosos trajes, já nos assediavam para comprar todo o tipo de bugigangas. Os “mais” turistas compraram bastões com pegas bordadas com os padrões locais. Eu comprei apenas um saco de folhas de coca para mascar ao bom estilo do carregador peruano. Descemos um pouco e chegámos à estação de caminho-de-ferro que marcava o km 82. O nome da povoação era simplesmente este. Parámos na soleira de uma porta e, em poucos minutos, tínhamos uma mesa posta com uns banquinhos para começarmos a almoçar. Victoriano dominava as tropas na cozinha e nenhum dos 6 carregadores se “baldava” ao trabalho. Tudo estava extremamente coordenado. Ainda tentei ajudar. Não me deixaram. A situação era incómoda. Era nosso dever ficarmos quietos sem fazer nada enquanto os carregadores preparavam o local para o tornar o mais acolhedor possível.

A mesa contava com toalha e tudo. Guardanapos meticulosamente enrolados à volta de um serviço de talheres completo. Um mate para ajudar a passar o tempo em que o almoço era preparado e fatias de pão milimetricamente cortadas para trincar. O guia dava os avisos iniciais e o grupo começava-se a conhecer. Contava com 3 peruanos que viviam em Los Angeles, 1 alemão com um aspecto turístico quanto baste e 1 casal de chilenos impecável. A maior parte eram jovens. Falámos um pouco enquanto a sopa não chegava. Rómulo, o guia chamou-me à parte. Explicou-me como iria funcionar a minha caminhada e pediu-me um favor. Como a minha marcação para o Inka Trail tinha sido feita muito rapidamente, a minha participação estava registada com um nome falso. À passagem do controlo, alguns metros à frente, tinha de afirmar chamar-me Davies Keith Ernest, que era Australiano e que tinha esquecido o passaporte em Cusco. A coisa não me cheirou bem e a verdade é que o nome utilizado era de um turista que tinha feito a sua marcação já há algum tempo na mesma agência. A fotocópia do passaporte tinha sido utilizada para marcar este lugar e o turista que aparecesse com vontade de ir com urgência para o Inka Trail tinha de se sujeitar a este nome para entrar. É prática corrente por estas bandas. Aceitei o desafio desconfiado. Ele disse-me que não havia problema e que já estava habituado a situações destas. Era o dia-a-dia no Inka Trail.

Embarquei na experiência por não ter mais nenhuma hipótese e por achar extremamente aliciante correr mais este risco calculado. Almoçamos sentados como verdadeiros lordes turistas mas com um desconforto evidente. Tanto eu como os chilenos não estávamos nada habituados a esta situação. Antes, estávamos habituados a cozinhar para nós próprios e a carregar as nossas próprias coisas. Só embarcávamos neste espírito porque era estritamente obrigatório. Por um lado tem todo o sentido. É a maneira de deixar mais dinheiro neste pais que tanto precisa.

Ao princípio da tarde começamos a caminhar e passados 5 minutos estávamos no posto de controlo. Por detrás de uma mesa um homem rigorosamente vestido de verde preparado para confrontar todos os turistas. Uma cadeira vazia ao seu lado. Estava reservada para o guia. Sentou-se e começou a apresentar os turistas que iriam fazer o Inka Trail. Fiquei para último lugar na fila como combinado. Todos passaram sem dificuldade. Estavam legais. Chegou a minha vez e o Davies (eu próprio) não vacilou. Pediu-me para escrever o nome num papel, o número do passaporte e a nacionalidade. Porra!!! Não tinha decorado o número do passaporte. Disse que não sabia e que não tinha nenhum documento de identificação. Depois de vários olhares desconfiados que eu confrontei com um olhar tímido mas seguro deixou-me passar. Fez uma advertência escrita ao guia e ambos percorremos a ponte sobre o rio Urubamba com as suas águas incrivelmente barrentas ou poluídas.

Agora sim, estava a calcorrear o mítico que me levaria à misteriosa cidade perdida de Machu Picchu.

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