Ladrões de sonhos
Mal Pais, Costa Rica
18 Junho 2007
Não tenho boas notícias. E, defendo eu, as más noticias devem ser dadas de uma vez, sem muito rodeios ou floreados. É melhor que o choque inicial seja grande para que, à medida que se entra em todos os detalhes, as coisas só possam melhorar.
Fui assaltado na Costa Rica, mais precisamente em Mal Pais. Ou melhor, fomos, porque cá recebia a visita da minha namorada para passar o que seriam duas semanas de férias tranquilas. Levaram-nos tudo.
Não vale muito a pena descrever o acontecimento com muitos pormenores. Basta que saibam que foi um golpe rápido, eficaz e, felizmente, sem danos corporais. Penso que não posso ser acusado de exagero ou perjúrio quando digo que nos levaram “tudo”. Neste momento, no meu inventário consta o seguinte:
– os calcões de banho, a t-shirt e os chinelos de praia que tinha vestidos
– um par de óculos de sol
– um sarong
– as duas pranchas de surf e o respectivo saco de transporte
– duas camisolas de licra para fazer surf
Mais nada. Repito, nada! Levaram o passaporte e todos os documentos. Levaram todo o dinheiro em notas que me restava e todos os cartões bancários. Levaram os bilhetes de avião, o computador e toda a informaçao que lá tinha dentro (emails, fotos, videos, textos, guias de surf e de viagem feitos por mim), as duas máquinas fotográficas, o iPod e todos os acessórios. Levaram os livros, a roupa, as sapatilhas, os medicamentos e artigos de higiene. Tudo bem arrumadinho dentro da mala e da mochila. Levaram “tudo”.
Algumas pessoas ajudaram com alojamento, comida, algum dinheiro para o ferry e gasolina suficiente para chegar a San Jose. Seguem-se dias de declarações em delegacias de polícia, visitas a consulados e embaixadas, telefonemas e emails… na tentativa de obtenção de novos documentos de viagem, novos cartões bancários e algum dinheiro imediato para primeiras necessidades. E, também, de alguma reflexão e avaliação de alternativas sobre o rumo que esta viagem poderá ou não tomar.
Levaram “tudo” o que era físico e material. Mas, pior do que isso, levaram-me o ânimo.