Melgaço, o destino de natureza mais radical de Portugal
Costumo dizer com algum orgulho que, sendo certo que viajo muito para fora, também conheço bastante bem o meu país. Mas, apesar de Portugal ser um território pequeno, há sempre mais alguma coisa para explorar! Não é que não conhecesse Melgaço ou não soubesse onde fica, mas a verdade é que nunca tinha reservado uns dias para visitar esta região com calma.
Depois de algumas tentativas, finalmente proporcionou-se a oportunidade!
Como chegar a Melgaço
Melgaço pertence ao distrito de Viana do Castelo e é o concelho situado mais a norte de Portugal. A melhor forma de chegar a Melgaço e passear à vontade pelos vários pontos de interesse da região é, sem dúvida nenhuma, de carro. Desde o Porto são cerca de 160 Km, a maioria dos quais em auto-estrada. Se está a viajar sem carro próprio, considere alugar um no Porto ou em Viana.
Alugar carro em PortugalNão sendo o carro uma opção, existem algumas alternativas de autocarros: A Auto Viação do Minho tem um expresso desde o Porto, que passa por Viana do Castelo ou Ponte de Lima. A AVIC tem carreiras regulares que ligam Melgaço e Castro Laboreiro a Monção e Viana do Castelo. A Internorte e a Anpian têm rotas internacionais de/para Espanha e França.
O que fazer, ver e visitar em Melgaço
Este é um resumo dos três dias que passei a visitar a região, a convite do Gabinete de Comunicação e Imagem da Câmara Municipal de Melgaço. Na verdade, tive a papinha quase toda feita :) mas espero que este artigo seja útil para vos ajudar a fazerem o vosso próprio itinerário.
Percursos Marginais do Rio Minho
Como fiquei a dormir no Monte Prado Hotel & Spa, comecei logo o dia com uma pequena caminhada pelos passadiços que serpenteiam as margens do Rio Minho (há um acesso directo desde o hotel). Este trilho, com 5,7 Km de extensão, começa na vila de Melgaço e termina na localidade de Peso. Pelo meio, tem este trecho maravilhoso mesmo junto ao rio. Confesso que não fiz o trilho completo, mas as cores de Outono estavam, simplesmente, magníficas!
Termas de Melgaço
Infelizmente, o balneário propriamente dito já estava fechado por ser época baixa (o normal é abrir de Maio a Outubro), pelo que não pude passar umas horas dentro desta água quentinha e milagrosa! De qualquer forma, a visita valeu a pena pois o espaço envolvente é muito tranquilo, com um bosque, lago, etc. Quem quiser, pode provar a Água de Melgaço directamente da fonte. Tem um sabor muito forte a ferro e propriedades curativas para doenças como diabetes, do aparelho digestivo, ossos e articulações e outras. Recomendo ligar antes para confirmar horários do balneário e da fonte. Mais informação em: Termas de Melgaço.
Igreja de São Salvador de Paderne
A manhã já ia longa e eu tinha um encontro marcado com um belo naco acompanhado por um Alvarinho bem fresco na Tasquinha da Portela. O Sr. Filipe recebeu-me como manda a hospitalidade da região e fiquei rapidamente com as forças revigoradas! A surpresa maior foi mesmo ter “encontrado” a Igreja de Paderne, que nem sequer estava inicialmente nas minhas anotações. Não sei se foi do vinho do almoço, mas aquele visual transportou-me para séculos atrás, algures no Brasil ou em São Tomé. Mas não, era mesmo cá…. :)
Espaço Memória e Fronteira
Segui viagem para o espaço Memória e Fronteira, um pequeno mas muito interessante museu sobre o contrabando e a emigração, duas realidades profundamente ligadas à história de Melgaço e da região. Dica: se estiver a pensar visitar mais museus, compre logo o bilhete para todos porque ficam mais barato.
Centro Histórico de Melgaço
O centro histórico da vila de Melgaço é bastante concentrado e formado por pequenas ruas estreitas que descem a partir do castelo. Visita-se a pé e os pontos mais importantes são os seguintes:
» Castelo e Torre de Menagem
» Ruínas Arqueológicas da Praça da República
» Igreja Matriz e Igreja da Misericórdia
» Museu do Cinema Jean Loup Passek
» Solar do Alvarinho
Mandado construir por D. Afonso Henriques para ajudar na defesa da fronteira do Alto Minho, do castelo já pouco resta para além das ruínas exteriores e da Torre de Menagem. Mas é um lugar muito bonito! Vale a pena subir à Torre de Menagem para apreciar a vista desafogada sobre a cidade e as serras vizinhas.
O Museu do Cinema é, obviamente, um ponto de referência para os amantes da arte e tem uma história muito interessante por trás, que fiquei agora a conhecer. Jean Loup Passek, um conhecido cineasta francês, conheceu, por ocasião de um documentário que estava a realizar sobre as “bidonvilles” francesas (bairros de lata), uma grande comunidade de emigrantes melgacenses, com os quais acabou por criar uma relação de amizade. Mais tarde, começou a vir muitas vezes para Melgaço, onde acabou por comprar uma casa e envolver-se na comunidade. Quando faleceu, Jean Loup Passek deixou todo o seu espólio como doação à vila de Melgaço e o desejo de ver construído um museu pequeno e intimista, com uma relação de proximidade com a população.
Confesso que sou pouco apreciador de vinho, pelo que foi com alguma surpresa que terminei a tarde no Solar do Alvarinho a fazer uma excelente prova, demorada e bem explicada. Adorei! Será desta que começo a trocar a Coca-Cola por uma bebida de homem? :)
Se há coisa que não se passa em Melgaço é fome! E sede. Começando, claro, pelo vinho Alvarinho, queijos e enchidos e terminando nas várias especialidades de bacalhau, naco, vitela ou cabrito. Antes de subir a serra até Castro Laboreiro (subir à noite é outra emoção!), fui provar uma das especialidades de bacalhau do restaurante Chafarix, que não desiludiu. Como ia conduzir, fiquei-me pela água… ;)
Castro Laboreiro
Depois de uma amigável recepção e um noite descansada na Just Natur Guesthouse (já não me lembrava de dormir numa terra tão silenciosa), a Sónia levou-me a dar uma grande volta por Castro Laboreiro. O castelo será, porventura, a principal atracção e ponto de visita obrigatório. A maior parte da subida até aos 1.033 metros de altitude faz-se a pé. Não é um caminho demasiado exigente e, para além da aprendizagem histórica, a vista desde lá de cima compensa bem o pequeno esforço!
Mas, entre pequenas aldeias espalhadas pela serra, igrejas medievais, fornos comunitários, moinhos, espigueiros, o Rio Laboreiro e as suas pontes, cascatas e piscinas naturais há muitas coisas para ver e caminhos para explorar em Castro Laboreiro! No próprio centro, a Igreja Matriz e o Pelourinho, datado do século XVI e classificado como imóvel de interesse público, ocupam lugar de destaque. Existe ainda um interessante Núcleo Museológico onde se pode aprender sobre a dinâmica das Brandas (habitadas durante o Verão e Primavera) e Inverneiras (habitadas durante o Inverno). Se tiverem sorte, serão recebidos pela meiga cadela de raça Castro Laboreiro “residente” do museu.
A vila de Castro Laboreiro está situada dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e é um destino de natureza perfeito para amantes de caminhas, BTT, etc. Além da hospitalidade, a Sónia e o António são grandes conhecedores da zona e oferecem passeios e tours muito interessantes.
Lamas de Mouro
A caminho da Branda da Aveleira, onde tinha dormida marcada, ainda deu tempo para passar na Porta de Lamas de Mouro, uma das cinco entradas para o PNPG, onde existe uma estrutura de recepção aos visitantes (mapas, informações sobre percursos, etc) e um pequeno museu. Seguindo um pouco a estrada e entrando já pelo parque dentro, a paisagem começa a ficar interessante e é possível avistar alguns animais, como o cavalos semi-selvagens que tive a sorte de encontrar!
Branda da Aveleira
As “Brandas” eram o “acampamento de verão” dos antigos pastores do Alto Minho, que subiam para as terras mais altas durante as estações mais quentes, deixando as terras baixas livres para o cultivo. De forma inversa, durante os meses frios, desciam para as “Inverneiras”. De forma a preservar este património, algumas destas pequenas aldeias têm vindo a ser recuperadas e transformadas em Aldeias Turísticas, onde se pode fica alojado em algum isolamento e no meio da natureza, como é o caso da Branda da Aveleira.
De referir que a aldeia é bastante isolada e praticamente sem infraestruturas de suporte para além das casas em si e de um restaurante próximo com horários limitados, sem sinal de telemóvel ou internet! Aguentam? :)
Reservar casa Branda da AveleiraQuinta do Soalheiro
Estava na terra do famoso vinho Alvarinho e tive a sorte de terminar o dia e a minha visita a Melgaço na Quinta do Soalheiro, provavelmente a maior referência na região, por ocasião de um evento solidário. Posso não entender muito de vinhos mas, gosto de pensar, entendo um bocadinho sobre pessoas. Este é um negócio familiar, mantido por gente genuinamente hospitaleira, descontraída e humilde, num espaço onde é muito fácil e rápido sentirmo-nos bem-vindos! As visitas incluem não só a parte da adega e as provas de vinho e fumeiros da região, bem como um passeio na própria vinha e, na época própria, a vindima.