Passar fronteiras por terra e a pé é uma das cosias que mais me entusiasma em viagem. Desenhar e executar o “plano de ataque”, sentir o reboliço todo das zonas fronteiriças, ter os perigos à espreita, a atenção e os sentidos redobrados… e, por fim, atravessar aquele espaço de “terra de ninguém” entre um e outro território.
Por vezes, ainda que a entrada por via aérea seja mais prática e económica, vou por terra só para experimentar e para introduzir alguma emoção extra na viagem.
Neste relato a minha experiência de passagem da fronteira terrestre desde a Tailândia (Chiang Mai e Mae Sot) até Myanmar (Myawaddy e Yangon).
1. Autocarro desde Chiang Mai até Mae Sot (Tailândia)
A companhia de autocarros que viaja de Chiang Mai para Mae Sot é a Greenbus Thailand. Os bilhetes podem ser comprados online no site da empresa ou presencialmente em alguma agência da cidade ou no próprio terminal de onde parte o autocarro, o Arcade Bus Station, Termimal 3. Eu comprei online e o processo foi simples e rápido. Nem é preciso usar o cartão de crédito pois há a opção de pagar numa loja 7 Eleven até duas horas após a reserva no site. Chegando ao terminal, é só ir ao balcão da Greenbus trocar o recibo pelo bilhete final.
Website www.greenbusthailand.com
Facebook www.facebook.com/greenbusthailand
Há diferentes horários. Se o objectivo é passar a fronteira para Myanamar ainda no mesmo dia, então tem que se apanhar o primeiro autocarro de manhã. Se, pelo contrário, o plano passa por dormir em Mae Sot e passar a fronteira no dia seguinte, então pode-se apanhar o autocarro da tarde, que foi o que eu fiz.
No terminal há vários sítios para comer, incluindo uma galeria comercial mesmo ao lado com cafés e restaurantes western style, e no autocarro, oferecem uma garrafa de água e um snack ligeiro. O autocarro é normal, confortável sem ser luxuoso, com ar-condicionado e assentos reclináveis. A viagem demora cerca de 6-7 horas, com paragem em algumas cidades pelo caminho, e termina no Terminal Sul de Mae Sot.
2. Arranjar um hotel em Mae Sot (Tailândia)
Eu decidi dormir em Mae Sot e passar a fronteira no dia seguinte à viagem desde Chiang Mai. Por um lado, não precisei acordar tão cedo para apanhar o autocarro e, por outro, prefiro sempre fazer as passagens de fronteira sem pressas e com tempo de sobra, pois nunca se sabe se vai haver algum imprevisto ou o que podemos encontrar do outro lado e, desta forma, temos mais margem para resolver eventuais problemas.
Fiquei na Ban Thai Guesthouse, que é uma das primeiras que aparece no final da estrada desde o terminal de autocarros e um pouco antes de chegar mesmo ao centro, e revelou-se uma excelente opção. Quarto grande, limpo e bem arranjado, com ar-condicionado e um bonito jardim e espaço exterior por 850 Bahts para duas pessoas. Mesmo ao lado, há um restaurante muito simpático e com boa comida, ideal para jantar antes de ir dormir. Outras opções com boas avaliações e comentários são, por exemplo, o Irawadee Resort, o Baanrabiangmai Hotel e a T. House Guesthouse.
No terminal de autocarros consegue-se apanhar um tuk-tuk até ao hotel ou até ao centro. Senão, são “apenas” dois quilómetros a caminhar, que foi o que eu fiz porque cheguei perto das 20:00 e não havia muitos disponíveis. É muito útil ter uma aplicação de GPS no telemóvel como a Maps.me ou outra e marcar lá dois ou três alojamentos possíveis.
3. Songthaew ou tuktuk até à fronteira (Tailândia)
No dia seguinte acordei com calma e dirigi-me para onde me indicaram ser o local de onde partem as Songthaews, as táxi-vans tailandesas, até à fronteira. Descobri que havia dois locais: o primeiro na rua principal do centro, onde me pediram 50 Bath por pessoa até ao lado de Myanamar (a carrinha espera que os passageiros carimbem os passaportes a atravessa a ponte); o segundo numa esquina no final da rua do mercado, onde paguei 20 Bath para me deixarem na fronteira e passar a pé.
A segunda opção é, de longe, a melhor. Além de ser mais barata, não se tem que esperam que os outros passageiros carimbem o passaporte e não se apanham as filas de trânsito, muitas vezes infernais, nos postos de controlo. A melhor opção é mesmo atravessar a pé!
4. Saída da Tailândia
Ainda do lado da Tailândia, será necessário mostrar aos oficiais o passaporte e entregar papel de saída preenchido (aquele que recebemos à chegada no aeroporto e achamos que não serve para nada). O processo foi simples e rápido, tinha apenas uma pessoa à minha frente e não demorei mais do que 5 minutos.
Não deixe o seu visto da Tailândia expirar, pois as autoridades tailandesas estão cada vez menos flexíveis e, para além de ter que pagar uma multa, pode ficar banido de entrar no país por alguns anos. Veja mais informações os sobre vistos para a Tailândia no artigo Informação prática para viajar na Tailândia.
5. Atravessar a Friendship Bridge a pé (Tailândia e Myanmar)
Este é, para mim, o momento alto do dia! Por alguns minutos estar ali no meio, com um país de cada lado. É altura de tirar fotos para a prosperidade: ao pé da placa, virados para a Tailândia, virados para Mayamar, virados para o rio, com a cabeça de fora da ponte, a fazer o pino, etc.
6. Entrada em Myanmar
Como é natural, o procedimento de entrada em Myanmar demora um pouco mais do que o de saída da Tailândia. É preciso preencher um formulário, tirar uma foto na webcam para os registos da Imigração, etc. Tal como acontece noutras fronteiras, no formulário é pedido a morada onde se vai ficar em Myanmar. Para simplificar e evitar confusões, o ideal será já ter uma reserva efectuada na primeira cidade onde se vai dormir ou, pelo menos, saber o nome e morada de um hotel mesmo que não se tenha reserva nenhuma. No Booking.com dá para ver esses dados.
De qualquer forma, no meu caso até foi rápido porque havia pouca gente. Saí de Mae Sot às 11h30 e por volta as 13h já estava despachado e a entrar num novo país!
Uma das primeiras coisas a fazer é arranjar dinheiro local. Na rua principal, seguindo sempre em frente depois de passar a fronteira, há pequenas bancas de cambiadores onde se pode trocar os Baths tailandeses que sobraram. Também na mesma rua, há alguns bancos onde é possível trocar Dólares ou Euros e levantar dinheiro nas ATMs.
Um bom sítio para comer é o restaurante River View, uma casa colorida que se vê logo ao atravessar a ponte, do lado esquerdo. Myawaddy não é uma cidade interessante para se ficar mas, no caso de não se conseguir transporte ou já for muito tarde para viajar, existem alguns alojamentos decentes. É uma questão de procurar um pouco e escolher um.
O e-Visa é suficiente para entrar em Myanmar por esta fronteira terrestre. Veja mais informações sobre vistos para Myanmar no artigo Visto Tailândia.
7. Autocarro desde Myawaddy até Yangon (Myanmar)
Eu viajei directo para Yangon num autocarro nocturno com a companhia Shwe Mandalar que também pára em Hpa-An, que é um destino turístico com algumas coisas interessantes. Reservei o bilhete muito facilmente através de chat pela página do Facebook da empresa e quando cheguei a Myawaddy foi só ir ter ao escritório para levantá-lo. Também é de lá que parte o autocarro.
Website http://www.shwemandalarexpress.com/
Facebook https://www.facebook.com/BusTicketInMyanmar/
Esta é uma das melhores empresas de transportes de Myanmar. O autocarro era bom, muito limpo, com assentos muito rebatíveis, cobertor, oferta de garrafa de água. Saiu as 17:00 em ponto conforme o horário e o condutor e a assistente de bordo prestaram excelente serviço. Foram 10 horas de viagem até Yangon com paragens em Hpa-An e para jantar e ir à casa de banho.
8. Chegada a Yangon (Myanmar)
O autocarro chegou ao terminal de Aung Mingalar, que fica a 20km do centro de Yangon, às 2:30 da manhã, o que não é uma boa hora para chegar seja onde for. O ideal é já se ter um hotel reservado com antecedência e, assim, seguir directamente para lá. Eu tinha marcado a Myint Myat Guest House e deixaram-me fazer o check-in mal cheguei. O preço normal de um táxi é cerca de 8.000-10.000 Kyats mas àquela hora os taxistas tentam puxar mais pelo preço. O mais forte e menos desesperado levará a melhor! :)
Olá André, obrigada por escrever um blog tão maravilhoso, é uma das minhas FONTES DE PESQUISA…
Estou de viagem marcada para o sudeste asiático, como vou com tempo, quero ir programando a viagem em seu decorrer, Tenho uma dúvida quanto à entrada em Myanmar (e também no Camboja, Laos e Vietnam) é necessário bilhete de saída do país????
É que para entrar na Tailândia via aérea precisamos do bilhete de saída…. Tenho lido vários relatos e em nenhum fala sobre bilhete de saída…
Obrigada mais uma vez por partilhares conosco tuas belíssimas experiências de viagens….
Olá Claire! Obrigado pelo feedback :)
Em relação à tua dúvida, posso-te dizer que já entrei algumas vezes na Tailândia sem bilhete de saída e nunca tal me foi pedido. Mas, sim, já li relatos em que isso aconteceu (o que é muito estúpido porque se pode sair por terra, etc). Myanmar entrei o ano passado por terra sem bilhete de saída. Vietnam entrei o ano passado por ar (vindo de Myanmar) sem bilhete de saída. O que recomendo é fazeres uma das seguintes alternativas:
– Se não quiseres arriscar, compra um bilhete de saída barato que depois poderás nem utilizar.
– Podes comprar um bilhete via Expedia que tens 24 hrs para cancelar sem custos e depois de entrares no pais cancelas.
– Se quiseres ser ousada, “falsifica” uma reserva, imprimem e mostra se te pedirem.
– O que eu faço nessas situações dúbias é ir sempre com tempo, com o computador ou telemóvel preparado para comprar um bilhete na hora, caso seja necessário.
Como vais com tempo e, se calhar, vais entrar por terra nesses países, estou quase certo que não terás qualquer problema. Se tiveres, resolves na altura :) ir com tempo tem essa vantagem!