Para mim, uma das maiores aventuras em viagem é passar fronteiras “a pé”. Isto é, por terra e de forma independente, sem ser integrado numa viagem ou num autocarro transfronteiriço.
Uma das travessias mais míticas entre viajantes independentes será, porventura, a da ponte Rumichaca, a principal fronteira entre o Equador e a Colômbia. Ouvem-se muitas histórias e mitos sobre esta travessia mas, na verdade, quando a tive que fazer, não encontrei muita informação prática e objectiva que me ajudasse a traçar o melhor plano. Por isso, deixo aqui o relato da minha experiência e algumas dicas pessoais, esperando que sejam úteis a outros viajantes.
Partir cedo rumo a Rumichaca
A minha principal estratégia sempre que tenho que fazer uma deslocação que envolva uma passagem de fronteira é simples: ir o mais cedo possível! Há sempre imprevistos e situações que não controlamos. Controlo de passaportes, vistos, papéis para preencher, controlo policial, revistas de bagagem, filas, muita gente, alguém a querer “ajudar”, distracções, amigos do alheio, encontrar transporte do outro lado da fronteira, etc. É importante ir com tempo, para fazer as coisas com calma. A última coisa que queremos é ficar sem alternativas e sermos um alvo fácil para algum oportunista. E, já se sabe, o cair da noite traz sempre mais perigos, pelo que é melhor que tudo fique concluído ainda com a luz do dia.
Autocarro desde Quito/Otavalo até Tulcan (Equador)
Tulcan é a última cidade do Equador antes da fronteira. Pode-se chegar até lá de autocarro desde Quito no próprio dia ou fazer uma paragem em Otavalo ou Ibarra. Eu fiquei 3 dias em Otavalo e valeu muito a pena! É uma cidade muito simpática e com muito para visitar à volta.
Se se partir de Quito, ir até ao Terminal Terrestre de Carcelén (Terminal Norte). De lá, partem autocarros para Otavalo, Ibarra ou Tulcan a cada 10-15 minutos e os bilhetes podem-se comprar facilmente na altura. A viagem até Otavalo demora cerca de 2 horas e até Tulcan cerca de 5 horas. Se for para ir directo a Tulcan e passar a fronteira, recomendo ir cedo e apanhar o autocarro das 6:00 ou 7:00 da manhã.
Partindo de Otavalo, tem que se apanhar o autocarro que vem de Quito. Este autocarro não entra no centro da cidade nem pára no terminal, pelo que é preciso apanhá-lo na estrada Panamericana. Em princípio, o motorista pára em qualquer ponto que lhe façam sinal mas há paragens próprias e, pelo sim pelo não, o mais recomendado é esperar lá. Para saber onde são as paragens, o mais simples é perguntar a algum local. A viagem de Otavalo até Tulcan demora cerca de 3 horas.
Onde dormir em Otavalo
Há vários alojamentos económicos com qualidade em Otavalo. Eu fiquei no Hotel El Indio estive muito bem. Algumas opções bem localizadas são:
» Hotel El Indio
» Hostal La Rosa
» Hotel Santa Fe
» El Andariego
» Hotel El Geranio
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Do terminal de Tulcan até à fronteira (Equador)
Uma vez chegado ao terminal de Tulcan, tinha duas hipóteses para ir até à fronteira: apanhar um táxi mesmo ali no terminal (3,5 USD) ou tentar encontrar o parque de onde partem carros colectivos até Rumichaca. Nestas coisas, costumo privilegiar a parte prática. Entre gastar 3,5 USD e ir direitinho e sem complicações até fronteira ou ter que procurar, perguntar, perder tempo, carregar a mochila e as pranchas pela rua, etc… venha o táxi! Uma boa táctica é perguntar a alguém que venha no autocarro se vai para a fronteira e se quer partilhar um táxi. Foi o que fiz e acabei por dividir o transporte e respectivo custo com um holandês que também estava a viajar.
Serviços fronteiriços e passagem da Ponte Rumichaca
Chegando à fronteira propriamente dita, não tem muito que saber e não é muito diferente de qualquer outra fronteira terreste. De um lado estão os serviços do Equador, onde tem que se ir fazer a saída; do outro estão os da Colômbia, onde se tem que ir fazer a entrada. No meio está a ponte, no one’s land, que é a imagem que aparece mais vezes se procurarem “Rumichaca” no Google. Quer de um lado, quer do outro vão estar policiais a dar todas as indicações e informações necessárias mas, se estiver muita gente, pode demorar um bocado. Há relatos de viajantes que demoraram horas nas filas (também por isso é que é preciso ir cedo), mas eu não demorei mais que 15-20 minutos em cada lado.
Onde cambiar dinheiro?
No Equador usam-se Dólares Americanos mas na Colômbia a moeda é o Peso Colombiano. É muito provável que no terminal de Tulcan apareçam cambiadores de rua a tentar vender Pesos. Na própria fronteira também e até existe uma casa de câmbio oficial. Eu não cambiei em nenhum dos lugares, pois o taxista que me levou desde a fronteira até Ipiales (Colômbia) aceitou Dólares e, dessa forma, evitei ser “roubado” nos câmbios fronteiriços. Pode-se cambiar, diria eu, mas acho que não mais que o suficiente para apanhar o táxi até Ipiales, ou seja, cerca de 5 USD ou 10.000 Pesos, pois no terminal de Ipiales há caixas ATM onde se pode levantar dinheiro.
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Táxi até Ipiales (Colômbia)
Depois de terminar os procedimentos fronteiriços e já do lado da Colômbia, o passo seguinte é encontrar transporte para Ipiales, a cidade mais próxima. Não há autocarro, pelo que tem que se apanhar um táxi. Cheguei a ser abordado por carros “não oficiais” que fazem o percurso mais barato que os táxis registados mas, mais uma vez, é nestes pequenos detalhes que pode estar a diferença entre as coisas correrem bem ou mal. Ainda mais, eu viajo quase sempre de pranchas de surf, que dão muito nas vistas e parecem valer bom dinheiro. Não vale a pena arriscar só para poupar 2 ou 3 dólares.
Os táxis oficiais estão num parque de estacionamento um pouco abaixo do edifício da Migración. São táxis partilhados (colectivos), mas por 4 Dólares, divididos mais uma vez com o meu companheiro de viagem momentâneo, fomos apenas os dois e as minhas pranchas! O taxista deixou-nos no terminal de autocarros de Ipiales, porque ele queria seguir logo viagem para Cali e eu queria ficar num hotel lá ao lado, mas podia também ter-nos deixado no centro da cidade.
Ficar em Ipiales ou seguir viagem para Cali?
Do que eu conheço, só poderá haver duas razões para se querer ficar em Ipiales. Uma será para visitar o Santuário de Las Lajas; a outra será para não fazer a viagem para Cali durante a noite, pois é um trajecto que continua a ser perigoso e sobre o qual ainda há alguns relatos de assaltos, particularmente no troço Pasto-Popayan. Partindo cedo do Equador e não demorando muito na fronteira, dá para atravessar, visitar Las Lajas e ainda apanhar o autocarro nocturno para Cali no mesmo dia.
Mas eu decidi ficar uma noite em Ipiales e apanhar o autocarro na manhã seguinte e acho que foi uma boa opção! Tendo tempo, penso que é o melhor a fazer. Há alguns hotéis básicos e baratos à volta do terminal de autocarros e outros tantos no centro da cidade. É uma questão de procurar e escolher um que agrade. Para ir para Las Lajas, há carros colectivos que partem do terminal e a viagem demora cerca de 20 minutos.
Onde dormir em Ipiales
Se o objectivo é apenas pernoitar antes de seguir viagem e/ou visitar o Santuário de Las Lajas, é prático ficar ao lado do terminal de autocarros, no Hotel San José Ipiales. Se, por alguma razão, quiser ficar mesmo no centro, também há algumas opções.
» Hotel San José Ipiales
» Loft Hotel Ipiales
» Hotel Royal Class
» Hotel Santa Isabel
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Autocarro para Cali (Colômbia)
A viagem de autocarro para Cali demora cerca de 10 horas e, em alguns trajectos, a paisagem é assombrosa, com ravinas de centenas metros por ali abaixo.
Há diversos horários ao longo do dia e mais que uma companhia a fazer o trajecto, como a Cootranar, a Transipiales e a Bolivariano. Os bilhetes podem ser comprados pessoalmente no terminal, nos respectivos websites das companhias ou, de uma forma rápida a prática, através da Busbud. Os autocarros costumam ser óptimos, com assentos confortáveis, muito rebatíveis e com muito espaço entre bancos, oferta de sumo e bolachinhas, Wi-Fi, segurança, bons filmes a passar, etc. Recomendadíssimo!
Olá!! Que bom ver este site. Muito bem conseguido. Sou português das ilhas, açores digamos, e estou a viajar pela América do Sul ha quase 1ano. Viajo muito barato, gastando o menos possivel, o que me levou a conhecer varios truques e rotas que saiem muito mais baratas que as tradicionais. Mas vejo que aqui ja tens tudo muito bem conseguido.
Muito bom, grande abraço.
Que bom o detalhe do post. Ajudou-me bastante pois será a minha próxima fronteira ainda que no sentido Colômbia – Equador. Até já tinha pensado em apanhar avião de Cali para Quito mas por terra é muito mais económico. :) Obrigada pela informação, André! Boas viagens!
Excelente! :) Ainda bem que foi útil. Se tiveres oportunidade de ficar em Otavalo, vale mesmo a pena, pois é uma terra muito fixe. Boa viagem!
Bacana seu post. Queria saber sobre as questões de segurança pela travessia em terra desta fronteira. Planejo atravessar do Equador para a Colômbia e como não sei muito sobre o local, paira a dúvida sobre as questões de guerrilhas, etc.
obg,
Não tens que te preocupar com isso. No post tens tudo detalhado como fazer e o alerta apenas para viagens nocturnas. De resto, não consigo ajudar mais! :)