Depois de ter enviado a última crónica parti em busca de um local para almoçar. Indeciso, encontrei um pequeno restaurante com uns tantos peruanos lá dentro. Achei simpático e com um preço apetecível: 3,50 soles. Nada mau, qualquer coisa como 1 eurozito. Escolhi uma sopa e um bife. A sopa era divinal, suculenta e substancial e com meia espiga de milho dentro para dar sabor. Dos ingredientes que consegui identificar contava-se o ovo que, diga-se de passagem, lhe ficava muito bem. Um copo de chá para acompanhar e logo apareceu um prato recheado de arroz branco bem cozinhado com um bife e batatas fritas. Típico prato de um trabalhador, como eu! :). Nem se via o fundo.
Terminei com uma “gorja” simpática e passei no hotel para arrumar umas coisas e preparar o material fotográfico para umas fotos das famosas varandas de Lima. Levei tripé e tudo! Até parecia um fotógrafo profissional. Quando cheguei à Plaza de Armas e montei o tripé era ver os peruanos a olhar para mim de lado. Uns por se sentirem intimidados, outros para ver como é que iriam roubar o otário do turista. Felizmente não fui roubado. Continuei a tirar umas fotos mas cedo abandonei a tarefa. O tempo estava muito nublado e as fotos iam sair muito fracas. Tirei umas 20 e parei. Sinceramente desisti. Continuei a passear pelo centro e terminei a minha tarde a viver um pouco do que mais sentia falta: da ocidentalização destes fantásticos países de terceiro mundo, do que mais corrompe e explora estas pessoas fantásticas e no que mais destrói traços culturais tão valiosos, os MacDonald´s. É verdade, não me orgulho do que vos venho aqui contar mas, como faz parte da minha viagem, não ficaria bem comigo próprio se não retratasse também as desventuras deste viajante corrupto que se deixa levar por imagens de marketing tão bem estudadas. Jantei lá e rapidamente saí arrependido. Porquê? Que raio de ideia se passou na minha cabeça? Já comi e já me fui. Não vale a pena continuar a remoer. Dali voltei ao hotel. Como ainda não estava recomposto da viagem e do fuso horário decidi deitar-me cedo. No dia seguinte iria viajar para Pisco.
Acordei cedo para ir à estação de autocarros. Durante a noite juntaram-se 3 novos vizinhos ao dormitório. Tomei um chuveiro, tomei um forte pequeno-almoço e parti rumo à estação de autocarros. Apanhei a mesma estrada confusa do dia anterior, tomei o mesmo emoliente no mesmo sítio e comprei o bilhete para Pisco. Pisco é junto ao mar e é um muito famoso porto peruano. A viagem duraria 3 horas mas durou 4, o que é perfeitamente normal! Entramos na famosa estrada Pan-Americana e, pelo meio de um deserto imenso, dirigimo-nos para sul. É inacreditável, não se via vivalma. Só uns anúncios à Inka Kola (a concorrente da Coca-Cola neste pais) de quando em vez contrastavam com a paisagem. Só areia e dunas e no meio, a rasgar a imensidão, uma longa auto-estrada de alcatrão. Sem dúvidas nenhumas é esta a lost highway. Acompanhado pela música percorri toda esta viagem com alguma normalidade.
Aproveitei esse tempo para continuar a ler o livro da famosa viagem de mota do Che. Cheguei a Pisco! O autocarro deixava-nos na Pan-Americana a 5 kms do centro da cidade. Do autocarro que parou logo atrás saiu um casal de italianos. Negociei um táxi e partimos os três juntos num táxi partilhado para a Plaza de Armas. Mal chegámos a Plaza de Armas um homem muito castiço veio-nos oferecer os seus serviços. Depois de 2 ou 3 recusas e de outras tantas insistências perguntei-lhe por um hotel barato. Levou-me ao mais barato da cidade, o Hotel Progresso. O nosso amigo fez as honras da casa e apresentou-se com o nome de Marco Zapata. Foi um senhor! Portou-se como um digno anfitrião da sua cidade. Almocei com os italianos e, pela tarde, fui marcar uma viagem às Islas Ballestas onde poderia ver e fotografar leões-marinhos e pinguins. A viagem de barco, que partiria as 7h da manha, custaria 30 soles. Sem grandes reclamações comprei a viagem na agência de Marco. Mais tarde vim a concluir que me tinha feito o preço justo. É reconfortante sentir que se pode confiar nas pessoas!