A galinha do vizinho
Os meus amigos têm inveja da minha vida. Eu tenho inveja da deles. Mas cada um de nós tem apenas aquilo que a vida lhe foi entregando.
Os meus amigos têm inveja da minha vida. Eu tenho inveja da deles. Mas cada um de nós tem apenas aquilo que a vida lhe foi entregando.
O André escreveu-me a carta que agora aparece, neste livro, na página 30, com o título “Viagem Adiada”. A viagem adiada em questão era a sua volta ao mundo.
É com alguma tristeza que escrevo este email, mas convencido de que tomei a melhor decisão possível nesta altura do campeonato. Adiei o projecto da viagem.
Seria honrado morrer nas muralhas do castelo, a lutar uma batalha por uma causa perdida ou um amor impossível, como antigamente. Mas não aqui, sozinho, numa curva apertada de uma estrada secundária escura e estreita.
Em Quepos, pensei que ia ser uma conquista rápida. Mas, pelo contrário, a Rhunia não estava interessada numa aventura casual com um gringo da Europa.
Um concerto dos Placebo em Brisbane, Austrália Desembarco em Sydney e sigo directo para Bondi Beach, onde fico uma noite em casa da Xica, uma … Ler mais
Um dia em cheio no paraíso do surf Australiano Os primeiros dias na Austrália acabaramm por ser críticos para o resto da viagem. Fico dois … Ler mais
Tenho que parar. Preciso relaxar um bocado, estender a toalha e dormir na praia, pegar outra vez no livro, não pensar no regresso e nos próximos meses em Portugal, relembrar os planos da volta ao mundo… e sonhar.
Bichinho traiçoeiro este da tristeza, sempre a espreita de uma oportunidade para atacar. Pode ser qualquer coisa. Uma música, um filme, uma frase, um e-mail, uma recordação, uma paisagem, um olhar, uma cerveja a mais… qualquer coisa.
Faço uma última surfada numas esquerdinhas de meio metro em Narrabeen e nessa noite janto no Tailandês de Bondi Beach com a Xica, o Hamish e uns amigos. Arrumo as pranchas no saco e passo o fim-de-semana a visitar a cidade e a ver futebol com os vizinhos.
Acordo com uma mão no ombro que me pede para endireitar as costas da cadeira para a aterragem. A última vez que tinha olhado para o pequeno monitor, o mapa indicava que estávamos algures sobre o Médio Oriente.
Mais do que as fotos de paisagens inacreditáveis, dos filmes de ondas perfeitas ou dos e-mails de pessoas que conheci, o extracto do mês de Março fez-me recordar aqueles momentos banais de sobrevivência, pequenas coisas do dia-a-dia de um viajante que acabam por ser a essência de qualquer viagem.