Contra-relógio

Contra-relógio
Pavones, Costa Rica
18 Julho 2007

Viajar de forma independente proporciona muitas experiências que nos fazem crescer como pessoas e desenvolver competências que vão muito para além do que, à partida, se pode imaginar. Entre outras coisas, acontece-nos aquilo que eu gosto de chamar de “efeito McGyver”.

9:45 – Acordo com o telefonema da Sra. Mayela. “André, já tive a confirmação da DHL. Os documentos serão entregues hoje, no máximo até às 14:00”. Peço-lhe para me ligar novamente mal cheguem, estarei no hotel à espera.

9:50 – Levanto-me, tomo um duche rápido e começo a (re)pensar nas alternativas. “No máximo até às 14:00… mas pode ser antes, claro. Depende da rota do estafeta. Até pode ser daqui a 5 minutos”.

10:10 – Arrumo as coisas para estar pronto para sair a qualquer momento. Telefono para a Tracopa, a empresa de autocarros que viaja para Golfito, a cidade mais próxima de Pavones. Pergunto os horários e tempo de viagem. “7:30 e 15:30. Mais ou menos 8 horas.”

10:20 – Pego no computador e vou ao lobby do 2º piso do decrépito Hotel Morazan, o sítio onde se apanha melhor a rede wireless. Verifico os horários dos voos da Sansa Regional para Golfito. 05:30, 11:00 e 13:00. 93 USD com taxas + 10 USD por cada prancha. Anoto os contactos telefónicos do balcão do aeroporto e do escritório de vendas no Passeo Colon. Vejo, novamente, as previsões de ondulação para Pavones.

10:40 – Decido ir para o Consulado e esperar lá o passaporte. Ligo à Sra. Mayela para avisar que vou a caminho mas ela está com outra chamada e não pode atender. Peço para lhe darem o recado.

pavones, costa rica
Pavones. A recompensa depois do contra-relógio.

10:50 – Desço para a recepção e pago a conta com o cartão de crédito. “Don André, ligaram para si agora mesmo. Tentei passar a chamada para o quarto mas já não o apanhei. Pediram para avisar que o seu passaporte já chegou.”

11:00 – Mando parar um táxi do outro lado da rua. Atravesso a correr, com a mochila às costas, as pranchas a tiracolo e a mala numa das mãos. O sinal fica verde e os carros apitam mas eu não quero nem saber. “Barrio México, por favor!”

11:10 – Vou no táxi a avaliar rapidamente as alternativas. “Quanto me cobraria para me levar ao aeroporto? E em quanto tempo chegaríamos?”. Se tentar o avião às 13:00 e não chegar a tempo ou não houver lugares (é uma avioneta que leva 10-12 pessoas), já dificilmente conseguirei voltar para trás a tempo de arranjar bilhete para o autocarro das 15:30. E, ainda que conseguisse, chegaria a Golfito às onze da noite. Teria que procurar um hotel para dormir e apanhar o autocarro para Pavones no dia seguinte.

11:20 – Chegamos ao Consulado. Peço ao taxista para me esperar dois minutos, que já lhe digo o que vamos fazer. A Sra. Mayela atende-me logo. Dá-me o passaporte para assinar e acabar de plastificar, pede-me para assinar um papel e, conforme me tinha prometido, dá-me uma cópia da factura do serviço de estafeta, que vou tentar meter no seguro. Antes que eu saia a correr, dá-me um abraço. Põe-me a mão primeiro na cabeça, depois no coração. “Que Deus te acompanhe e te traga muita sorte no resto da viagem”. Agradeço comovido e relembro-a para aguardar o meu postal da Austrália “lá para Setembro ou Outubro!”

11:30 – Entro novamente no táxi. Tenho que decidir no instinto, aeroporto ou terminal de autocarros? “Aeroporto, vamos! A que horas conseguimos estar lá?”. Depende do trânsito, mas o pior é sair de San José. Depois disso, se tudo correr bem, são 20 minutos. O meu condutor percebe o stress e é solidário comigo. Muda de faixa, apita, passa na via mais rápida da portagem.

12:10 – Aeroporto. Pago os 7.500 colones (15 USD) que o taxímetro marca e saio depressa do táxi. “Suerte!”, grita-me quando já vou a correr em direcção à gare.

12:15 – Gare da Sansa Regional. “Quero ir para Golfito às 13:00 mas ainda não tenho bilhete!”. Sim, há lugares. Ufa! Tento convencê-los a só me cobrarem uma prancha, já que vão no mesmo saco, mas não consigo.

12:30 – Bilhete na mão. Não tenho dinheiro quase nenhum e sei que em Pavones não há banco. Em Golfito, não vou ter tempo porque, segundo um guia que li e espero que esteja certo, o último autocarro para Pavones é às 15:00. Se não houver atrasos, o avião aterrará às 14:10. Corro para o terminal principal do aeroporto, onde há um banco onde posso fazer um Cash Advance, agora que já tenho “um documento de identificação original”.

12:45 – Volto ao terminal da Sansa à hora marcada para o embarque mas, aparentemente, o voo está atrasado.

Drale Bay, a Costa Rica
A pista de aterragem em Drake Bay, Costa Rica.

13:20 – Embarque. O avião é pequeníssimo, não se consegue sequer ficar de pé lá dentro! No que eu me fui meter… e sem Lexotans nem nada! O voo é demasiado agitado até chegarmos à costa, pelo meio de nuvens feias e com alguma chuva à mistura. Tento pensar em coisas boas e, de alguma forma, alivia-me dizer coisas positivas ao inglês que ainda vai com mais medo do que eu.

14:10 – Aproximação e aterragem emocionante na reduzida pista de Drake Bay, uma escala antes de Golfito, para deixar e recolher passageiros. Despegue 10 minutos depois em direcção a Golfito.

14:40 – Aterragem em Golfito, com 30 minutos de atraso. O primeiro taxista que me aparece pede-me 1.500 colones (3 USD) para me levar à paragem do autocarro para Pavones. Não sendo muito dinheiro, parece-me absurdamente caro e pergunto se não me leva por 1.000. Pousa a minha mala no chão e diz que então é melhor tentar apanhar outro táxi na rua. Assim faço, irritam-me estes gajos que se tentam aproveitar. O primeiro que mando parar não quer levar as pranchas dentro, diz que a polícia o multa… mas o que ele tem é medo de sujar as capas dos bancos, o azeiteiro! Passa outro logo a seguir. “500 colones. Sim, não se preocupe, temos tempo.”

14:55 – Paragem de autocarro para Pavones. Ainda não comi nem bebi nada o dia todo. Compro uma água e um pacote de biscoitos de qualquer coisa. Cinco minutos depois, religiosamente, o autocarro chega e enche rapidamente.

praia de pavones costa rica

17:00 – Depois de uma viagem massacrante, que inclui uma travessia de balsa, chego a Pavones. Preciso de um sítio para dormir. As duas primeiras cabinas onde vou perguntar estão lotadas. Outras duas, já têm o aviso na porta a dizer “No vacancy”. Já imaginava isto mas ainda não tinha tido oportunidade para me preocupar. Quando entra um swell, enche tudo rapidamente. E o swell começou ontem!

17:40 – Depois de ver outras duas cabinas bem foleiras que custavam 10 USD, encontro outras anexas a uma pizzaria. 15 USD, um bocado escura e não propriamente um exemplo de limpeza. Mas não posso adiar mais. Só me faltava, depois de tudo, não arranjar sítio para dormir. Fico. Peço uma vassoura, de forma a dar o toque à rapariga, que se disponibiliza de imediato para dar uma limpeza geral enquanto vou ao minimercado comprar inseticida contra mosquitos.

18:30 – Regresso. O quarto já tem melhor ar. A cama tem lençóis lavados e bem cuidados. O colchão parece-me razoável. Deito-me. Respiro fundo, sorrio com um ar de vitória e fecho os olhos para adormecer depressa. Até amanhã.

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