Contagem decrescente
Leça de Palmeira, Portugal
13 Abril 2007
A cinco dias da partida, seria de esperar que estivesse a rebentar de ansiedade. Não estou.
Esta viagem de Volta ao Mundo andou tanto tempo a ser planeada na minha cabeça que parece que já quase conheço a maioria dos destinos traçados no mapa. É uma ilusão, eu sei. A cabeça engana muito.
Não foi também por acaso que, nos últimos anos, viajei sozinho para a Nova Zelândia, Indonésia e Peru. Eu queria ver como eram esses extremos do mundo, apalpar terreno, tirar-lhes o pulso. Descobrir que na Oceânia há campos sem fins, que a América se atravessa de autocarro e a Ásia de comboio. Perceber quando e onde se pode confiar mais nas pessoas ou quando se deve ter mais alguns cuidados.
A cinco dias da partida, seria de esperar que no chão da minha sala já estivesse a manta onde costumo ir colocando a roupa e acessórios que farão parte da bagagem. Não está.
Na verdade, desde que tomei a decisão de deixar o trabalho para viajar durante um ano, pouco tenho parado. Depois da história do lançamento do livro, mais do que planear a viagem em si, é preciso preparar a sua estrutura de suporte e antecipar um pouco o regresso. Burocracias de Centros de Emprego, Finanças e Segurança Social, SMAS, Portgas, EDP, TVCabo, seguros, bancos, etc. Alterar e actualizar contactos, arrumar a casa, ajudar amigos e família nas suas coisas, despedir das pessoas mais próximas.
Contava o meu amigo João Diogo, durante a apresentão do livro “O primeiro passo”, uma história passada durante a sua viagem de volta ao mundo. Um fotógrafo Sul-africano, curioso por vê-lo de pranchas de surf às costas num comboio algures no interior da Nova Zelândia, meteu conversa com ele. Depois do João lhe explicar que andava simplesmente a ver o mundo e a procurar boas praias com ondas para fazer surf, o homem não ficou convencido.
– Mas não andas à procura de mais nada?
Ele ficou a matutar naquilo e, alguns minutos mais tarde, dirigiu-se novamente ao seu companheiro momentâneo de viagem e disse-lhe que sim, que realmente estava à procura de mais alguma coisa. O João encontrou-se naquela viagem.
Numa aventura destas vamos, inevitavelmente, à procura de alguma coisa, que muitas vezes nem sabemos o que é. E mesmo quando não vamos, acabamos sempre por encontrar.