Caçar gambozinos
El Remate, Guatemala
24 Maio 2007
Se a memória não me falha, os Tarântula eram um grupo de música que o meu amigo Luis costumava ir ver ao Pixote, um bar ali (ou melhor aí) no Campo Alegre. Nunca fui com ele, e também nunca gostei muito do Pixote, mas sempre tive alguma curiosidade em conhecer os Tarântula. Os nomes das “coisas”, às vezes, despertam-me a curiosidade.
Em La Casa de Don David, o hotel onde estou hospedado em El Remate, a aldeia mais próxima das ruínas de Tikal, há tarântulas no jardim. Contam-se mesmo histórias de algumas que entraram pelos quartos para fazer uma visita aos hóspedes.
El Remate é o meu primeiro destino na Guatemala. O mini-bus que saiu de Belize City às 10:00 da manhã (as pranchas tiveram que entrar e sair pela janela!) deixou-me, quatro horas depois, mesmo à porta do hotel, que encontrei quando pesquisava na Internet coisas sobre Tikal e cuja história vale bem a pena conhecer.
A visita a Tikal foi feita bem cedo, às 6:00 da manhã, e com muito pouca gente. Confesso que não sou um esmerado visitante de ruínas ou outro tipo de monumentos. Dispenso quase sempre qualquer tipo de guia e, fora um pormenor ou outro que me chama realmente a atenção, basta-me conhecer a história em traços gerais. Gosto mais da big picture e de deambular por ali sem rota marcada, e de ir fazendo os meus filmes e imaginando histórias mirabolantes ali passadas.
Lembro-me uma vez que fui a Paris com a minha mãe e a minha irmã e não quis entrar no Louvre, preferi ficar cá fora nos jardins a correr e a brincar. Era novo ainda, a minha mãe podia ter-me obrigado. Mas também não me obrigou a ir à catequese e hoje sinto que tive muito mais liberdade, e consequentemente responsabilidade, na escolha das minhas convicções religiosas. Como sempre vivi entre duas mulheres, também pude ser eu a escolher o meu clube de futebol, conforme gostava ou não da cor dos equipamentos ou a proximidade do estádio em relação à minha casa.
Mas voltando às tarântulas… Na segunda noite, intrigado pelo facto daquele senhor e a mulher andarem por ali às voltas no jardim a apontar a lanterna para os buracos, perguntei:
– Desculpe, estão a procura de quê?
– Tarântulas! – responde entusiasmado.
– E isso é bom?
– Depende. Mas como não há televisão…
Não era isso que eu queria dizer. O que eu queria saber era se o facto de haver tarântulas à solta não seria perigoso e razão suficiente para me pôr dali a mexer naquele instante!
– Na verdade, elas são muito envergonhadas, escondem-se das pessoas e raramente fazem mal. E mesmo que fizessem, a picada não é mais grave que uma picada de abelha. Quer vir procurar connosco?
Concordei e fui calçar as sapatilhas, não fosse o diabo tecê-las. E, nessa noite, pus uma toalha enrolada a tapar a frincha da porta do quarto.