Bichinho traiçoeiro este da tristeza, sempre a espreita de uma oportunidade para atacar. Pode ser qualquer coisa. Uma música, um filme, uma frase, um e-mail, uma recordação, uma paisagem, um olhar, uma cerveja a mais… qualquer coisa.
Faço os últimos quilómetros da estrada até Evans Head com os olhos molhados fixados no horizonte. Paro o carro e caminho até à ponta do miradouro, onde fico um bom bocado sentado a olhar para as ondas de quebram sozinhas lá em baixo enquanto o sol torra o meu corpo, fazendo com que as lágrimas se misturem com pingas de suor.
A onda é uma direita que me faz lembrar a Arrifana. Não está muito boa mas devia fazer um esforço para entrar. Tiro uma foto e fico ali a pensar no que vou fazer a seguir. Talvez seja uma boa ideia guiar a noite inteira directo a Sydney e passar lá o resto da semana. Podia ir ver as Blue Mountains, visitar a cidade, conhecer a Opera House e alguns museus, procurar o reboliço. Talvez seja altura de encontrar companhia e ouvir uma voz amiga.
Mas antes, posso tentar levantar-me, respirar bem fundo, pegar na prancha e ir lá em baixo apanhar duas ondas. Quem sabe o bichinho vai embora da mesma forma que apareceu. Sem avisar.
Bichinho traiçoeiro este, sempre à espreita.