Arequipa vista ao detalhe

Taxis ArequipaImainalacatchanke. É assim que se cumprimentam as pessoas em Quechua, dialecto utilizado nas montanhas pelos fabulosos representantes da comunidade Inca outrora devastada em nome de um imperialismo colonial desprovido de sentido lógico.

Da última vez que escrevi estava de partida para as montanhas, mais propriamente para o Colca Canyon, o mais famoso canyon do Peru e o segundo mais profundo do mundo. O outro, mais profundo, é já aqui ao lado, o Cotahuasi. Saí do internet café e fui calmamente para o meu hotel, a Marlon`s House. Sensibilizado com as vossas palavras tirei inúmeras notas de pormenores das ruas peruanas para que todos nos pudéssemos sentir mais verdadeiramente caracterizados pela realidade local. As ruas são, obviamente, confusas e em todas as esquinas se vende Emoliente (o tal chá que já anteriormente vos tinha falado). Há muita prostituição e tendo em conta o número de caixotes de lixo existentes e o nível de civismo dos peruanos as ruas nem estão muito sujas. Os carros, pequenos e todos de marca Daewoo, circulam sem nenhuma organização aparente ao som do toque de buzina e do encosto amistoso. As prioridades não são pela direita, nem sequer pela esquerda, nem sequer por lado nenhum e também não reina a lei do mais forte já que os carros são quase todos iguais. A orgânica do trânsito é simples – quem chegar primeiro é quem passa. Por isso, a cidade é ruidosa e desagradável para passear à excepção da praça central, Plaza de Armas, presidida por uma fabulosa catedral. Pacata, arranjada e com uns tantos transeuntes a ocupar os numerosos e bonitos bancos de jardim.

Arequipa está localizada numa falha sísmica muito sensível e há 3 anos uma das torres da catedral caiu, tal como me explicou o meu companheiro de viagem, trabalhador no serviço de identificação local, na viagem desde Chivay no dia de ontem. Estamos no centro das montanhas, a mais de 2.000 metros de altitude, e rodeados de vulcões activos que a qualquer momento podem-se revelar bastante inconvenientes. Os cruzamentos têm semáforos que são religiosamente obedecidos e que funcionam apenas para os automóveis, não têm sinais para peões. Logo, para se saber se está verde ou vermelho para passarmos temos de olhar para cima para a sinalização vertical dedicada aos automobilistas. Os passeios têm pontualmente rampas para acesso a deficientes mas não cheguei a ver nenhum a circular pelos passeios. Será que os obstáculos são muitos? Claro que são. Há vendedores de todo o tipo de bugigangas em todas esquinas e rectas de todos os quarteirões. Os empregados das lojas convidam os clientes a entrar em cada metro que andamos. Música nas alturas sai das portas de todos os estabelecimentos que vendem cd’s e, por todos os lados, existem cabinas de telefone públicas da Telefónica, empresa espanhola que economicamente continua a ver o Peru como uma colónia.

Os guardanapos dos restaurantes são finos, foleiros, plastificados e quase nada absorventes. Curiosamente, tem sido sempre assim, desde os bons aos maus restaurantes. A pobreza cria uma desconfiança tal em relação ao dinheiro que dentro de quase todos os estabelecimentos comerciais há uns cubículos onde se vai pagar no fim do jantar e onde jaze alguém aprisionado durante largas horas do dia. O açúcar é mais grosso, mais amarelado, menos doce e consequentemente menos refinado. Os cigarros locais são horríveis e não são tão baratos como pensava. Como estou a tentar deixar de fumar compro cigarros avulso e têm-se revelado excelentes laxantes para pôr o intestino a trabalhar. A população, talvez por esta razão, é maioritariamente não fumadora. A cerveja local, que só provei uma vez, é pouco saborosa e aqui em Arequipa dá pelo nome de Arequipeña. Em Cusco chama-se Cusqueña e, segundo consta, tem exactamente o mesmo sabor.

O café é simplesmente horrível, não faz parte da tradição deste país e é mais saudável fazer como eles. Beber chá ao jantar a acompanhar um belo bife de alpaca. Segundo me disseram, o café do Peru é todo exportado. Por cá, ficam as cascas que são moídas e consumidas como café. Como devem imaginar encontrar um bom café expresso está apenas ao alcance dos bons turistas, aqueles que ficam nos Sheraton’s e nos Holyday Inn’s. Curiosidade, típica de países pobres, é que circula dinheiro falso em abundância. Sempre que se paga alguma coisa toda a gente está automaticamente regulada para confirmar a veracidade da nota. Felizmente ainda não apanhei nenhuma nota falsa. Mas, ok! Chega de descrições.

Cheguei ao hotel e fui descansar. Li mais um pouco do livro do Che e actualizei o meu diário. Á 01h partiria rumo a Cabanaconde, bem no centro do vale do Colca é a povoação onde se iniciam todos os trilhos. Ainda consegui dormir qualquer coisa, acabei de preparar a mochila, deixei algumas coisas no hotel (entre elas o meu MiniDisc, para poupar no peso) e à 1h estava a apanhar o táxi para o terminal de autocarros. Quando cheguei ao terminal vários peruanos dormiam enrolados em mantas em todos os bancos do longo e frio corredor de espera. Uns pequenos cafés estavam abertos para atender os turistas. Num deles uma mulher na porta, pouco importada com o sossego dos viajantes, batia com uma moeda numa vitrina de vidro e com o mesmo ritmo apregoava os produtos do seu pequeno estabelecimento comercial. Gasosa, café, cola, chá, mate de coca… alto!…. mate de coca, ainda não tinha experimentado. Estava na altura! Como o balcão da companhia onde eu iria viajar ainda estava fechado fui tomar o meu primeiro mate de coca de toda esta viagem. Desiludiu-me. Uma infusão de saco com o chá dentro de um copo com água quente. Que novidade é que isso tem? Nenhuma. No entanto, ainda guardei a etiqueta da saqueta do mate como recordação.

O balcão da Andalucia Autobuses abriu. Dirigi-me para pagar e levantar o bilhete previamente marcado por Rocio desde o hotel onde estava alojado. Levantei o bilhete e tive direito a um lugar à janela. Que privilegio, pensei eu! Sempre vou poder ver as vistas. O autocarro partiria às 02h. Paguei 1 Sol para poder embarcar (perguntei porquê e disseram que era por ter o privilégio de usufruir de um terminal com todas as companhias de camionagem de Arequipa), pousei a minha mochila e acomodei-me confortavelmente no meu lugar junto à janela. Primeira surpresa. A janela não fechava. O trinco não chegava ao local onde deveria encaixar por mais forca que se fizesse. Reparei que nenhum dos trincos fechava. Teria de apanhar frio a noite toda e estava sem a camisola, que tinha perdido. Só tinha um forro polar e uma t-shirt de manga comprida. A noite estava agradável e não me preocupei. Mal imaginava o que iria ainda passar…

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