Há quase duas décadas, um dos meus tios começou a enviar-me postais das suas viagens. Lembro-me especialmente de dois postais da Índia e de alguns relatos da América Latina. Para a minha imaginação infantil a ideia do meu tio, ou alguém que eu conhecia intimamente, estar a caminho de Goa ou da Patagónia era o equivalente à véspera de natal, era excitante, mal podia acreditar.
O meu tio viajava com uma mochila pequena as costas, no interior tinha uma muda de roupa, documentos e um livro. Se gostava de uma cidade ficava até estar satisfeito, se não gostava ia embora no mesmo dia. Comprava roupa pelo caminho e avançava sem grandes preocupações. Durante a minha adolescência invejei-o por poder viajar de forma tão livre e descontraída.
E cá estou eu, no Vietnam, de mochila às costas (confesso que mais carregada que a do meu tio) com um bilhete de autocarro sem datas marcadas e que me permite parar em várias cidades. Quando estive em Hue não gostei e fui embora no dia seguinte, apaixonei-me por Hoi An e fiquei 4 dias e meio. Amanhã sigo para Nha Trang, supostamente a melhor área para mergulho de todo o Vietnam.
A viagem de autocarro é a parte mais desagradável de todo o processo, não só raramente consigo dormir a viagem toda como tenho o mau hábito de olhar pela janela e acabo sempre por testemunhar a má condução vietnamita. Por três vezes na viagem de Hanoi a Hue pensei que íamos ter um acidente sério. O autocarro avança pelas estradas – ora asfalto ora terra batida – a 120/140km por hora ignorando completamente as regras de transito e as regras de sanidade mental. Se há um camião de frente para o autocarro a toda a velocidade, a técnica vietnamita consiste em buzinar incessantemente ate o camião se desviar. O camião pode ser uma bicicleta, um carro de bois ou ate um peão, não interessa. O autocarro tem prioridade. Até há alguns dias só tinha visto coisas deste género no filme Speed.
Na minha opinião o grande problema do Vietnam é que estou a adorar, estou literalmente a apaixonar-me pelo país e pelas pessoas. Dou por mim até a argumentar menos durante as negociações de preço, ora porque os acho encantadores ou porque têm um sorriso fantástico (tenho de admitir que é uma técnica e tanto).
Mesmo Hanoi, com todo o trânsito e buzinadelas conseguiu encantar-me. A minha cidade preferida até agora é Hoi An, uma cidade antiga protegida pela Unesco com vestígios Hindus, Japoneses, Franceses e Chineses. é uma cidade à beira-rio e a apenas 4km do mar, a vida piscatória ainda esta intacta e funciona com técnicas que me parecem estranhas, mas que funcionam. A cidade antiga, protegida pela Unesco, oferece uma viagem ao passado, montes de cores: de candeeiros, de vestidos de seda, de quadros, de artesanato etc e claro, montes de sorrisos.
Quer-me parecer que os tailandeses estão demasiados habituados a turistas. É a única explicação que me ocorre porque, quando passeei de moto com um amigo da Malásia e nos perdemos, perdi a conta às pessoas que nos sorriam de corpo e alma, com um olhar incrível e que nos tentou ajudar. O sorriso vietnamita tem o dom de me fazer sorrir quando tenho o rabo dorido após 5 horas numa mota. É um dom incrível, garanto-vos!
Parece que a hospitalidade que toda a gente me garantiu esperar da Índia e da Tailândia está, afinal, no Vietnam. O meu visto é apenas de 30 dias mas estou já a planear regressar. Não sei que elogio maior existe para um pais.
Xim chao!